Na Época em que na Cidade não havia Motel
 


Quem foi e com quem foi não importa.
Foi-se!

Na cidade não havia motel. Naquele tempo em que, quando os casais se relacionavam mais intimamente, a interelação era chamada de “Fazer Amor” ou “Transar”. E nos meios menos desenvolvidos era “Fazer Bubiça” – diziam os Antigos.
E aonde os casais iam para namorar?
Ia-se nos matos aos redores da cidade.
Ia-se nos lugares ermos, retirados, escuros, vazios. 
Ia-se ao cinema para práticas de ensaios.
Ia-se até em banheiros de boteco...
 
Ia-se onde houvesse oportunidade de ir!

 
Ia-se nas zonas de baixo meretrício. Os pais orientavam os irmãos mais velhos dizendo:
- Tem que levar este rapazola lá para ele conhecer mulher para que ele não vire mariquinha!
E muitos foram aos bordéis e mais tarde viraram isto e aquilo... opa!  Sem estigmas e rótulos. Estamos na pós-modernidade onde tudo é uma questão além dos gêneros e caso de opção sexual. E tudo é mais claro, permitido, sem hipocrisia, sem “debaixo dos panos”. Não há mais “Casas de Tolerâncias” onde as “mulheres da vida” transformavam rapazolas em homens feitos.


No tempo em que não havia motel na cidade um caso ficou famoso. Um dono de mercado – não havia ainda supermercado – levou a caixa de seu estabelecimento para um lugar ermo. Há muito os dois flertavam.

Pararam o veículo, que no dia a dia carregava mercadoria para os fregueses, em um lugar desabitado nas cercanias da cidade. A noite se fazia e por isto não viram que além dos arbustos havia uma ribanceira.
O namoro começou... Mãos dadas, mãos passadas, dedos entrelaçados, beijos no pescoço, sarros... E a coisa esquentou.  Fizeram tanta festa em movimentos, que o veículo sacudido e balançando foi cedendo à gravidade. Desceu barranco abaixo. O casal só saiu de seus frenesis amorosos quando se viram em apuros.
O barulho da queda na ribanceira foi tanto, sorte deles, que casas distantes ouviram o estouro e os ais de dores – não  se escutavam na hora do namoro o ui, ui, ui de amores, garantiram os que socorreram.
Para o local foram patrulha policiais, ambulância e curiosos – o povo tinha o que falar e comentar agora. A cidade saiu de sua letargia característica. As comadres tricotavam e os compadres malhavam – faíscas de inveja da aventura dos amantes  eram percebidas.


Era o tempo em que na cidade não havia motel e os amantes se amavam in natura – com ou sem carro sem distinção trabalhista e de propriedade. O importante era “fazer o amor”!
 



Leonardo Lisbôa
Barbacena, 07/05/2014.
 
Leonardo Lisbôa
Enviado por Leonardo Lisbôa em 14/11/2014
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