Ah, nem!
"Aprendi no ENEM que
o número de adesivos com horários que o cara tira do quadro, é diretamente proporcional ao seu desespero."
@ChrisOficial via Twitter #aprendinoenem

Neste final de semana, 8,7 milhões de alunos eram esperados para o ENEM. Dentre eles, dois de meus sobrinhos. Assim, além do noticiário, as provas foram assunto também lá em casa.
Agora, é esperar o resultado, torcendo pelos moleques e me roendo de inveja, porque na minha época não tinha isso. Era vestibular mesmo, chapa dura! Hoje, além do Exame Nacional, tem o PAS e a gurizada ainda pode escolher o curso menos concorrido, assim, mais baratinho, mais de acordo com a pontuação que tem no bolso. E mais! Para quem não pode pagar cursinhos e outros que tais, tem as cotas – que eu acho nocivas na medida em que mascaram a má qualidade do ensino médio e fundamental – mas que servem como um empurrãozinho, reduzindo um bocadinho o peso da diferença social.
O tempo passou, mas o que nunca muda, é a meninada chorando por chegar atrasada e perder a prova. Desde a minha época, gritos e lágrimas abundantes em frente aos portões fechados podem mesmo valer foto de capa e entrevista no noticiário Global. Eu acho até que tem gente que fica à espreita nas escolas onde tem reportagem, só esperando os portões começarem a deslizar para se lançarem contra eles, em desespero. Farsa ou não, eu morro de pena. Já pensou? Meses e meses de ralação em cima dos livros e a mocinha pálida, com olheiras a la Família Adams, vê tudo perdido por um pneu furado ou um equívoco na escolha do ônibus? Teve quem se jogou por baixo do portão no melhor estilo Indiana Jones. Teve quem pulou a cerca, mas acabou desclassificado.
Para quem perdeu a chance, resta o muro das lamentações das redes sociais. Aliás, esta é a grande diferença dos exames na minha época, há pouco mais de trinta anos e agora: a internet e os facebooks e twiters, trazendo a público os desabafos de quem se deu mal, às vezes com muita graça. Perde-se a vaga na faculdade, mas não a piada.
Por outro lado, essa geração sofre com um fantasma que me bloquearia por décadas. Imagina. Tá lá você tentando desenvolver um tema inesperado como Publicidade Infantil e, ao reler o que escreveu, bate aquele medinho: e se essa frase for parar nas Pérolas do ENEM?
Ah, nem!

 
Texto publicado no Alô Brasília de hoje, 14/11/2014.