Cerrone!
Trago na lembrança um acontecimento muito especial na minha juventude. Ganhei uma fita K7 de um amigo contendo a obra "Cerrone 3 - Supernature", do ilustre cantor francês Jean-Marc Cerrone, ou simplesmente Cerrone. Não quero falar do cantor aqui, até porque a internet está apinhada de artigos sobre ele e seus feitos. Mas pra mim foi a primeira vez que o estilo "Disco" se mostrou forte, dizendo ao que vinha. Sem negar a minha paixão pelos seus demais seguidores (Donna Summer, Giorgio Moroder, Bee Gees, Tina Sharles, e muitos outros), confesso que aquele ritmo para mim era alucinante. A faixa inicial reunia 3 músicas. Mas, quando tocadas seguidamente, pareciam uma só, com três estágios! Tipo música clássica. Alucinante, mesmo! Uma "viagem"! Nessa época, alguém, certa vez, me ofereceu um cigarro de maconha. Então eu brinquei: "Cê tá doido, mermão! Eu já fico malucão só ouvindo essas paradas, imagina se der um tapa nesse bagulho aí...". Ele riu e me chamou de careta-maluco. É por isso tudo que até hoje sou grato a esse amigo, que me deu a fita, com o qual infelizmente, tenho tido pouco contato nos últimos anos, mas mora no meu coração.
Mas o inusitado do fato é que a dita fita acabou se desgastando e não durou nem seis meses. Estresse material mesmo! ----------------- dada a frequência com que eu a escutava. Pois as minhas "viagens" eram a bordo do meu gravador/toca-fitas portátil de qualidade duvidosa.
Pra minha sorte, encontre oi "LP" homônimo e ai gravei novamente uma fita para dar continuidade ao meu projeto. Esse LP teve mais sorte que a fita. Gravei mais umas duas ou três fitas durante o ano e meio em que ficou comigo. Depois disso, foi "subtraído" do meu inventário, por alguém que (quero acreditar) gostava mais de "Cerrone" que eu.
Pior ainda é que depois disso e da degradação das fitas que reproduzi, não mais achei nem a fita nem o disco. Procurei por lojas, cebos, colecionadores... mas nada. Isso se deu em meados dos anos 70. Dez anos depois os atendentes dos locais onde eu buscava encontrar o trabalho começaram a me dizer que nuca ouviram falar do tal CERRONE... Os meus amigos dessa época que também já eram outros, também não conheciam o cantor e caçoavam de mim dizendo que eu estava inventando e assim mais uma década se passou.
Durante esse tempo eu nunca esqueci o cantor sobremaneira a música "Supernature", mas confesso que cheguei a duvidar a minha própria crença de tê-los tido um dia. Assim meu subconsciente mandou um bloco de informações para o LIMBO. Mas apesar disso eu tinha um trunfo: Eu sabia a primeira frase da música: "Once upon a time ". E, é claro, graças ao bordão usado nos contos de fadas em inglês. Mas eu sabia a segunda frase também e mais o refrão... "Science opened up the door " e "Supernature". As duas outras músicas seguintes, eu as esquecera completamente. Mas isso não bastava. Minhas competências para a música são parcas, quase inexistentes. Assim se passaram mais vinte anos deste o presente do meu amigo.
Quando, em 1994 eu tive acesso a internet na minha casa (ainda discada e caríssima) não tive dúvida em ir atrás, pelo novo caminho... Não deu outra. Não apenas localizei a obra mas como também fiz minha primeira compra pela NET incluindo uma versão remasterizada do tão almejado trabalho. Agora em CD, obviamente... E então pude "provar", com um cd, que eu estava certo o tempo todo. Foi então, que dado a curiosidade e pesquisa na internet, eu descobri que Cerrone era uma pessoa e não um grupo, como eu sempre achara. Foi tambem pela internet que não demorei a achar em um site americano a vrsão original, em CD do tal "disco". Hoje com advento de toda essa tecnologia posso ouvir Cerrone a qualquer momento e em qualquer lugar. E não apenas Cerrone, mas praticamento todo e qualquer artista conhecido.
Vivo a me perguntar, como um adolescente de hoje concebe a ideia do viver-sem-internet da nossa geração.