22 MINUTOS

Joana acorda antes do relógio. 5h47. Desliga-o. Levanta-se. Vai até a varanda, procura o sol - está meio escondido. Não pega a câmera fotográfica porque o dia não está tão branco e tão aberto. Vai até a cozinha, bota a água pra ferver, faz um delicioso café e come frutas. Termina de aprontar-se. Despede-se do marido que dorme deliciosamente. Despede-se da cachorra, dos peixes e aciona o elevador. 6h44. Enquanto aguarda, mentalmente, revê as atividades do dia. O elevador chega e ela entra. Olha-se no espelho. Tudo em ordem. Mais um dia! Quarta-feira, dia 12 de novembro de 2014. Alguns segundos após entrar no elevador, a luz se apaga e o elevador para. Joana pensa: deve ser algo repentino, logo voltará a funcionar. Isso nunca aconteceu?! Não voltou... Abaixa-se para ver onde está o botão de alarme. E, pensa... ainda não! Voltará logo, logo. Antes de acionar o botão pega o celular, disca para a sua residência. O celular não completa ligação. Passa um WhatsApp, tenta um SMS. Escreve, envia, mas a mensagem, também, não sai do lugar. Telefona novamente para casa. O celular não funciona. Ao se dar conta de que está mesmo presa no elevador aciona com vontade o botão de alarme. Ninguém responde! Silêncio! Num espaço pequeno movimenta-se de cá pra lá. Levanta os braços. Põe as mãos na cabeça, diz pra si mesma em voz alta: estou mesmo presa no elevador! Seus pertences já estavam no piso. Tira as sandálias, senta-se no chão, pega a agenda, guarda a chave do carro, põe a agenda dentro da bolsa, levanta-se, pega o celular, tenta passar nova mensagem e chama o porteiro. Seu Amééérico?! Estou presa no elevador!! Chama seu Américo novamente, aciona o alarme e ouve a voz de uma mulher. Tem gente presa no elevador! O ar começa a diminuir. Joana quase se desespera. O elevador fica mais escuro. Que sensação ruim. O ar começa a faltar. Joana pensa. Senta-se no chão. Levanta-se. Anda de lá pra cá no pequeno espaço. Lembra-se que o paciente das 7h, extremamente pontual já deve estar no consultório. Chama seu Américo. Com voz de preocupação ele diz que já avisou a empresa de elevadores e que um funcionário se dirige ao prédio para atender a ocorrência. Joana pede ao seu Américo para chamar o marido e pedir a ele que telefone no edifício do consultório e avise sobre o atraso. Silêncio, novamente! Silêncio, silêncio! Para onde foram as pessoas? Onde está seu Américo? "Ah... será que ele me esqueceu aqui?" Será que o outro elevador também está parado com gente dentro? Silêncio! Ninguém?! E a voz de mulher, cadê? Como as pessoas têm coragem de ir fazer as suas atividades enquanto alguém está preso no elevador? Como? Onde está a solidariedade humana tão apregoada por aí? Onde estão todos? Joana sente-se só. Nem uma voz humana, nem um gritinho de criança, nem um cachorro latindo... nem o canto dos passarinhos do vizinho novo!? Nada? Nada! Silêncio! Nesse ínterim, Joana dá uma ordem para si mesma. Acalme-se!!!! Você não tem absolutamente nada a fazer a não ser manter-se calma! Calma. Calma. Calma. Calma. Repete em voz alta! Você não sabe quanto tempo ficará presa aqui! Guarde energia para o que virá! ACALME-SE!!! Ainda bem que Joana tinha um bom ouvido! Apesar da tensão, manteve o equilíbrio. Não berrou, não entrou em desespero, mas ficou muito incomodada por sentir-se sozinha. Não tinha ninguém para conversar com ela. Ninguém. Só escutava o silêncio. Silêncio oco. Silêncio do vazio. Nem uma voz para dizer-lhe: acalme-se, logo você sairá daí! Um filme se descortina em sua mente. O coração bate forte. A respiração fica mais curta. O calor aumenta. É preciso manter o controle. Como é destrutiva a sensação de estar fechada em quatro paredes, um teto e um piso. Sem abertura alguma. Sem som, sem voz, sem sol, sem gente e sem ter o que fazer a não ser esperar e exigir paciência de si mesma. Como é ruim esperar. Como é ruim depender de alguém. Como é ruim, por imposição de forças externas, ter que aguardar que outros tomem atitudes sobre a sua vida, enquanto você simplesmente espera. Silêncio! Joana ouve a voz do seu Américo chamando o seu marido. Sem luz, sem campainha, resta bater na porta. A esposa do senhor está presa no elevador! Algumas vozes! Que bom ouvir pessoas falando. Nesse período de aprisionamento Joana teve uma grande aliada, a sua respiração. Ao perceber que ia se desesperar ou pensar coisas estúpidas, Joana respirava. Não! Não respirava lentamente, não! Respirava profunda e rapidamente e intercalava com "respirações normais". Assim, manteve seus medos e tensões sob controle. Foi o que a ajudou a permanecer com algum equilíbrio. Não entrar em pânico, não chorar copiosamente, não querer arrancar os cabelos, não querer pular não sei pra onde, não rasgar a roupa, não quebrar o espelho. Simplesmente respirar, esperar e controlar-se. Encostou a cabeça na porta. Ouviu vozes. A porta abriu-se. Claridade. Ar fresco. Gente... gente!