Manoel de Barros, o poeta da alma das coisas

Falar de Manoel de Barros usando as nossas palavras pode parecer até contraditório. Porque as palavras, depois que conhecem Manoel, nunca mais são as mesmas. E as nossas, não... continuam na mesmice tola de cada dia.

As palavras que visitam Manoel se tornam tão ricas, tão singulares, tão inusitadamente significativas que as nossas, recolhem-se timidamente, numa reverência respeitosa pela genialidade manoelina.

As palavras depois que se tornam íntimas de Manoel passam a sorrir diferente, a chorar diferente, a falar diferente, a orar diferente, a contar diferente. Diferente como toda palavra cheia de graça e arte!

Por isso mergulhei nos versos de Manoel e da vertigem desse mergulho retirei dizeres esmeraldinos e diamantinos. Observem o fulgor que o define “Poeta é um ente que lambe as palavras e depois se alucina.” E a luminosidade de outro: “...os poetas precisariam também de reaprender a errar a língua...Seria uma demência peregrina.”

Os poemas de Manoel nos levam a aceitar com naturalidade o fascínio da transgressão, sorrindo complacentes ante a rigidez da língua. Ensinam-nos que, para ser poeta e expressar o mundo, temos que nos transformar no próprio mundo! Não no mundo facilmente observável, mas o mundo das brechas, das reentrâncias, das aderências, das incrustações, muitas vezes, lascivas e eróticas.

Enfim, as palavras que caminham lado a lado com Manoel são o suporte do ser, das coisas, da arte. As palavras que convivem com Manoel são aquelas sobre as quais crescem os jacintos!

Com as palavras, Manoel consolida a verdadeira ação de POETAR – palavras que se tornam versos que se modificam e se reinventam. Criação pura!

“...Não existir mais rei nem regências. Uma certa luxúria com a liberdade convém.”

Manoel de Barros, o poeta das palavras reinventadas! Salve!

Anna del Pueblo
Enviado por Anna del Pueblo em 10/11/2014
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