Reforma política, para qual lado ficará a sardinha?
 
Hoje, constatamos que tanto no Congresso Nacional, quanto na Presidência da República as prioridades da agenda política são temas sobre a reforma política. O polêmico assunto vem mobilizando congressistas e integrantes do Palácio do Planalto. Provocando uma explícita polarização de opiniões entre parlamentares da oposição e aliados do governo. Sobretudo em relação ao financiamento de campanha eleitoral. Se por um lado, o governo e sua base de apoio no congresso defendem a consulta à população sobre a reforma política através de plebiscito e se colocam a favor do financiamento de campanha público, e privado para apenas pessoa física; de outro, a oposição defende uma discussão mais profunda do tema no congresso, fim da reeleição e consulta à população através de referendo. Todavia, embora divergindo, ambos os lados abraçam a acirrada questão.
O clima político é tenso e provoca muitas indagações. Por que o governo e aliados estão tão determinados em estabelecer o financiamento, público e de pessoa física, de campanhas eleitorais? Se assim o for, qual o lado, oposição ou situação, será mais favorecido? Por que a oposição deseja o fim da reeleição, e o governo não se mostra favorável?
O principal argumento do governo, utilizado para convencimento e apoio da população à sua proposta, é que a extinção do financiamento de campanha eleitoral por empresas ajudaria no combate à corrupção. Que assim, os deputados teriam mais autonomia para decidir sobre os projetos no Congresso. Entretanto não seriam leis mais duras e o carácter dos nossos representantes que de fato ajudariam a extirpar a famigerada corrupção e a fazer valer o princípio de desenvolvimento da cidadania nas votações no congresso?
Os interesses são muito conflitantes para nossa percepção, não é mesmo? E sabemos que os políticos de uma forma geral defendem mais os interesses dos empresários, mentores de suas campanhas, do que os da população. Porquanto que sabemos que uma tempestade vem se anunciando por detrás de tantas nuvens e que cada força está puxando a sardinha para o seu lado.
Será que algum político, por algum instante, se lembra de nós, que pagamos impostos e o seu salário? Pobres transeuntes, nós somos, de um país tão enigmático em relação à política! Todavia os políticos debatem a inescrutável reforma política. E momento algum apresentam as verdadeiras razões para tamanha motivação. Fica tudo ofuscado, como se brincássemos de cabra-cega.
Sendo que, o mais perceptível desse intrincado projeto é seu objetivo de eliminar a corrupção. Como se reforma política fosse sinônimo de punição. E que o financiamento de pessoa física fosse livre de falcatruas. Por que os dois lados não se mobilizam para regulamentar a lei contra a corrupção já aprovada no congresso e sancionada pela presidenta?
Conquanto parece claro que o governo está buscando, com o fim da contribuição de empresas, um obscuro equilíbrio no financiamento das campanhas eleitorais, que hoje, é público, com participação de empresas e de pessoa física. Haja vista que o volume da contribuição de empresas sobrepõe em muito ao de pessoas físicas.
Por que um equilíbrio obscuro, você deve estar se perguntando. Porém, quais as pessoas físicas que teriam motivação em contribuir para uma suposta campanha eleitoral? Nós trabalhadores, já pagamos impostos demais, não? Quais brasileiros se engajariam tanto assim? Por que o governo, aliados e oposição não defendem que o financiamento das campanhas seja público e privado, mas com limites na participação de pessoa jurídica e física?
Parece que tem muito coelho neste mato escuro, e precisamos de luz. Vamos permanecer questionando, pois a participação do financiamento de pessoa física em detrimento ao de pessoa jurídica pode causar um verdadeiro alvoroço, e desiquilibrar a paz. Porque ainda não evoluímos o suficiente em cidadania para abarcar esse problema, concorda?
E, indubitavelmente, apenas alguns grupos de pessoas físicas estariam dispostos ou em condições para contribuir para campanhas eleitorais. Alguns feudos de intelectuais? Seríamos vassalos, novamente? Como se trocássemos a interferência do poder econômico na política, pela de grupos de supostos intelectuais filiados a partidos? Preferimos crescer, não? Já estamos sendo tutelados desde a colonização e não queremos troca de tutores, não é mesmo? Desejamos nos tornar cidadãos e exigimos instrumento real para isso, educação.
Penso que talvez esse debate tenha, também, o objetivo de desfocar nossa atenção. Não estão querendo camuflar o escândalo da operação lava-jato, as investigações da Polícia Federal na Petrobrás que envolvem políticos de diversos partidos, com essa nebulosa agenda de reforma política? Pois, o equilíbrio verdadeiro dessa polêmica não seria investimento em educação, em cidadania? Limite de doações de pessoas físicas e jurídicas, financiamento público das campanhas? E punição severa da corrupção?
Porquanto que puxaremos decididamente essa sardinha para o nosso lado, não é mesmo?
 
Maria Amélia Thomaz
Enviado por Maria Amélia Thomaz em 10/11/2014
Reeditado em 10/11/2014
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