Panem et circenses

Na relação dos circos - bons, medianos e renquéns - que visitavam as cidades do

interior e os tempos se incumbiram de mandar pra lona, o Gran Portugal Circus vinha

em um distante segundo lugar. À frente de todos vinha o Barnum Circus, e bote frente

nisso. A ponto de se dar ao luxo de montar aquela estrutura toda - uma complexa

ereção - dar espetáculo por dois dias, desmontar tudo e se mandar, de burras cheias,

pra outra cidade, já com a fama chegada à sua frente.

O Gran Portugal ficava em segundo porque todos os demais eram muito fracos, ainda

que prestigiados por aquela gente ávida de ver novidades, ainda que requentadas.

Assim, mais que a programação, o que se ressaltava no Gran Portugal era a lona nova,

quase impecável, letreiros bonitos, vistosos. De trapezistas a palhaços pouca coisa de

distinta permaneceria na memória.

Mas quando anunciaram O Equilibrista das Américas a platéia gelou em silêncio ao ver

aquela figura:

um senhor já bem encanecido, de vestes bem elegantes para o que se propunha - que

era sentar sobre uma cadeira equilibrando-se sobre um balanço em movimente, e dar

uma de saltimbanco com umas bolas de sinuca. Primeiro três, depois quatro, cinco...

Tudo ia funcionando bem até entrar a quinta bola... e caírem todas as outras, deixando

o equilibrista pálido, agarrado nas cordas do balanço. E a vaia correu solta.

O homem se indignou. Protestou. Mas não recomeçou. A vaia aumentou. E no dia

seguinte aquele número já não constou. A bela lona, o circo, e o equilibrista, sem dar pista, tudo se mandou.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 10/11/2014
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