Livre
Livre
Só o que se desmatou no primeiro trimestre de 2014 na Amazônia já serve de pano pra muita lágrima. Resumo da ópera - ninguém cuida e a moto serra impera. Que belo presente para nossos descendentes. Lá vive o Gavião Real, que de braços abertos a envergadura das asas chega a dois metros. O casal leva um ano para deixar o único filhote em condições de sobrevivência. São lindos, soberanos, dignos. Este ano já mudaram de dossel três vezes, devido a sanha dos predadores a diesel.
Sou livre e em vias de extinção. Não posso asilar o trio pois moro numa caixa de fósforos e cada garra dos adultos é do tamanho da pata de um urso pardo.
Vamos todos para o mesmo lugar - inexiste freio pra segurar a fagulha da destruição cega.
Por isso sou livre. Descobri ser a morte igualzinha a vida. Apenas o começo de um túnel que desemboca no início de outro e assim sucessivamente. Não sou daqui e pretendo estudar em Sirius ou numa das luas de Marte, em Fobos talvez, depois te mando a brochura. Para que sejas livre.
A próxima etapa consiste em permitir que nossos Corações expressem uma freqüência mais elevada do que a de descabidas ou pomposas palavras. O novo formato do entendimento nos liberta do cérebro, que não é a mente, e a compreensão já não reside na cabeça. Assim, ainda não atino, mas intuo. E então estou livre.
Como a palavrinha de uma letra.
Livre da sua inveja e mais, livre dos barbudos de metranca, quepes e cartilhas, ah, tenham dó, tenho mais respeito por um traficante de heroína do que desses canalhas que conspiram com a carteira de segundos, suor de terceiros, ilusões de quartos e esperanças de quintos.
Prefiro mil vezes inspirar a didática do centro cardíaco, cuja força do desejo pessoal transfigura-se em energia magnética de doação rumo aquilo que é maior do que eu e me envolve.
Pessoas que trabalham para o maior bem da humanidade utilizam tal transmutação. Não se debatem com ângulos mesquinhos, são diferentes dos "encarcerados" que criaram o sistema de corrupção mais abrangente e corrosivo de que tudo o que já se viu antes nesse país. Anteriormente diria nosso país, mas não é nosso, é deles, que fiquem com tudo, que taxem, destruam, multem, roubem, mintam, manipulem, desviem, maquiem, há de sobrar 50 metros de praia, dois coqueiros e uma cotovia.
Há de sobrar uma vitrola, uma canção, e a suculenta ausência de opinião.
Me libertei quando uma voz vinda do nada soprou:"Você está aqui no centro da profecia de eras, e todas disseram o mesmo - uma nova energia iria mudar a consciência humana. E pode ser que não tenha tempo de ir à escola".
Sou livre com períodos de mente perturbada, de alma em prantos, de titubeios honrados e dúvidas lancinantes, mas decreto agora que hei de ter em breve a serenidade do Everest e que mesmo em meio a fobias de monta com dinâmicas corriqueiras, atrevo-me a confessar que acostumei-me com elas, e permaneço livre até o meio do livro.
O final se escreverá sozinho. O Gavião Real fará ninho noutro planeta.
E minha liberdade em andamento irá mostrar-se altiva como uma geladeira vazia, um pé de pimenta, um caminho sinuoso que promete a vista para o mar.
Visto o que está exposto, o que circula no submundo, o que se sussurra de um pra outro, acerca da grandiosa tramóia em curso, o que um tipo com mais defeitos do que cabelos numa palmeira pode fazer a respeito? Nada, a não ser tornar-se livre, aceitando as duas oscilantes qualidades e as incontáveis opacidades e nem que tenha que deslizar por corredeiras secas para chegar numa lagoa seca, minhas pegadas sobre a areia dirão: livre do clamor dos burros que se apossaram do judiciário para fazer dele instrumento de interesse partidário, oh, puxa, quanta imaginação, seria melhor se fossem celibatários, escrevessem diários e abrissem mão de seus honorários. Estariam livres, decerto.
Como a palavrinha de uma letra.
E digo que terminamos por aqui visto que o tempo de confecção de um texto é determinado pelo próprio texto, diferente de certas amizades, pois uma amizade que termina nunca começou.
Chegou a hora substituir o poder fundamentado na posse, no privilégio ou na circunstância pelo poder baseado no amor, na transparência, na razão e na criatividade.
(Imagem: Childe Hassam, 1859-1935)
Livre
Só o que se desmatou no primeiro trimestre de 2014 na Amazônia já serve de pano pra muita lágrima. Resumo da ópera - ninguém cuida e a moto serra impera. Que belo presente para nossos descendentes. Lá vive o Gavião Real, que de braços abertos a envergadura das asas chega a dois metros. O casal leva um ano para deixar o único filhote em condições de sobrevivência. São lindos, soberanos, dignos. Este ano já mudaram de dossel três vezes, devido a sanha dos predadores a diesel.
Sou livre e em vias de extinção. Não posso asilar o trio pois moro numa caixa de fósforos e cada garra dos adultos é do tamanho da pata de um urso pardo.
Vamos todos para o mesmo lugar - inexiste freio pra segurar a fagulha da destruição cega.
Por isso sou livre. Descobri ser a morte igualzinha a vida. Apenas o começo de um túnel que desemboca no início de outro e assim sucessivamente. Não sou daqui e pretendo estudar em Sirius ou numa das luas de Marte, em Fobos talvez, depois te mando a brochura. Para que sejas livre.
A próxima etapa consiste em permitir que nossos Corações expressem uma freqüência mais elevada do que a de descabidas ou pomposas palavras. O novo formato do entendimento nos liberta do cérebro, que não é a mente, e a compreensão já não reside na cabeça. Assim, ainda não atino, mas intuo. E então estou livre.
Como a palavrinha de uma letra.
Livre da sua inveja e mais, livre dos barbudos de metranca, quepes e cartilhas, ah, tenham dó, tenho mais respeito por um traficante de heroína do que desses canalhas que conspiram com a carteira de segundos, suor de terceiros, ilusões de quartos e esperanças de quintos.
Prefiro mil vezes inspirar a didática do centro cardíaco, cuja força do desejo pessoal transfigura-se em energia magnética de doação rumo aquilo que é maior do que eu e me envolve.
Pessoas que trabalham para o maior bem da humanidade utilizam tal transmutação. Não se debatem com ângulos mesquinhos, são diferentes dos "encarcerados" que criaram o sistema de corrupção mais abrangente e corrosivo de que tudo o que já se viu antes nesse país. Anteriormente diria nosso país, mas não é nosso, é deles, que fiquem com tudo, que taxem, destruam, multem, roubem, mintam, manipulem, desviem, maquiem, há de sobrar 50 metros de praia, dois coqueiros e uma cotovia.
Há de sobrar uma vitrola, uma canção, e a suculenta ausência de opinião.
Me libertei quando uma voz vinda do nada soprou:"Você está aqui no centro da profecia de eras, e todas disseram o mesmo - uma nova energia iria mudar a consciência humana. E pode ser que não tenha tempo de ir à escola".
Sou livre com períodos de mente perturbada, de alma em prantos, de titubeios honrados e dúvidas lancinantes, mas decreto agora que hei de ter em breve a serenidade do Everest e que mesmo em meio a fobias de monta com dinâmicas corriqueiras, atrevo-me a confessar que acostumei-me com elas, e permaneço livre até o meio do livro.
O final se escreverá sozinho. O Gavião Real fará ninho noutro planeta.
E minha liberdade em andamento irá mostrar-se altiva como uma geladeira vazia, um pé de pimenta, um caminho sinuoso que promete a vista para o mar.
Visto o que está exposto, o que circula no submundo, o que se sussurra de um pra outro, acerca da grandiosa tramóia em curso, o que um tipo com mais defeitos do que cabelos numa palmeira pode fazer a respeito? Nada, a não ser tornar-se livre, aceitando as duas oscilantes qualidades e as incontáveis opacidades e nem que tenha que deslizar por corredeiras secas para chegar numa lagoa seca, minhas pegadas sobre a areia dirão: livre do clamor dos burros que se apossaram do judiciário para fazer dele instrumento de interesse partidário, oh, puxa, quanta imaginação, seria melhor se fossem celibatários, escrevessem diários e abrissem mão de seus honorários. Estariam livres, decerto.
Como a palavrinha de uma letra.
E digo que terminamos por aqui visto que o tempo de confecção de um texto é determinado pelo próprio texto, diferente de certas amizades, pois uma amizade que termina nunca começou.
Chegou a hora substituir o poder fundamentado na posse, no privilégio ou na circunstância pelo poder baseado no amor, na transparência, na razão e na criatividade.
(Imagem: Childe Hassam, 1859-1935)