A NOVA DIVISÃO GEOPOLÍTICA DO BRASIL

Um pouco de História não faz mal a ninguém.

Entre abril e julho de 1994 aconteceu um genocídio em Ruanda, no qual a etnia tutsi foi massacrada pela etnia hutu, pelo simples fato de a própria maioria hutu ter atribuído todas as mazelas da nação à população tutsi. Foi uma época em que Ruanda, um país africano, passava por grande crise. Mais de 500.000 pessoas foram massacradas. Quase todas as mulheres foram estupradas. Muitos dos 5.000 meninos nascidos dessas violações foram assassinados.

Pra mim já chega. É demais.

Todos os dias, no meu local de trabalho, atendo diversas pessoas, das mais diversas regiões do Brasil. Um lugar peculiar. É no nordeste, mas muitos dos clientes que atendo são do Sul/Sudeste brasileiro. Eles moram aqui. Mas só abrem a boca para falar mal dos nordestinos e da região, atribuindo a estes a culpa por todos os problemas sociais e econômicos pelo que nossa nação está passando.

Mas não desejo que esses voltem para suas regiões. Quero que fiquem para continuar desfrutando de todo o bem que desfrutaram até hoje. Afinal, se não foram embora é porque aqui está bom demais.

Outros amigos meus, daqui mesmo das regiões Norte/Nordeste, também colocam a culpa nos nordestinos e pobres a culpa de tudo. E o recebimento de bolsas por bode expiatório. Clamam por impeachment, por recontagem de votos e até (putz!) por um golpe militar. Dizem que estamos vivendo uma ditadura. Esquecem-se do passado, do que a nossa sociedade sofreu, e de todo ganho dos últimos anos.

Concordo que muita coisa precisa mudar. E serei um dos primeiros a cobrar melhoras. Só não concordo em ter de jogar minha cama fora só porque quero mais espaço dentro do meu quarto. Não mudo para pior só porque quero mudar. Prefiro continuar na mesma.

E quanto à ditadura, ao bolivarianismo, que tanto falam, bem... O que convencionou-se chamar bolivarianismo está muito longe de ser uma ditadura comunista. As realidades de países que se dizem bolivarianos, como Venezuela, Bolívia e Equador, são bem diferentes da Rússia sob o comando de Stalin ou mesmo da Romênia sob o regime de Nicolau Ceausescu. Neles, os meios de produção estavam nas mãos do Estado, não havia liberdade política ou pluralidade partidária e era inaceitável pensar diferentemente da ideologia dominante do governo. Aqueles que o faziam eram punidos ou exilados, como os que eram enviados para o gulag soviético, campo de trabalho forçado símbolo da repressão ditatorial da Rússia. Na Venezuela, por exemplo, nada disso acontece. A oposição tem figuras conhecidas como Henrique Capriles, Leopoldo López e Maria Corina Machado. Cenário semelhante ocorre na Bolívia, no Equador e também no Brasil, onde há total liberdade de expressão, de imprensa e de oposição ao governo. (http://www.cartacapital.com.br, 07/11/2014)

A propósito, nunca se teve tanta liberdade de expressão e imprensa como nos dias de hoje. Quantos jornalistas já foram demitidos por se posicionarem contra ao governo PSDB? Agora me diga quantos o foram por criticarem o PT? Nunca tivemos uma imprensa tão marron nas mídias impressas e televisivas (leia-se Veja e Globo). Liberdade ou libertinagem?

Dizem que o governo não os representa. Seria uma batalha entre a burguesia e o proletariado? E só para constar, a região Sul é a parte do Brasil com a maior concentração de simpatizantes do nazismo. Qual seria a relação do PSDB com o neonazismo?

Os nazistas alemães, na primeira metade do século XX, perseguiram e mataram milhões de judeus e comunistas. E como em Ruanda, os nazistas atribuíam aos judeus a culpa pelos males da humanidade. E aí me vem um mercenário autointitulado pastor dizer que os judeus rejeitaram a Jesus Cristo, fato este repetido em 2014 no Brasil. Aécio é Jesus, sr. Malafia? Pois temos 51,64% de judeus no Brasil. 51,64% de tutsis.

Continuando com o passeio histórico, em 1961 um muro foi construído em Berlim na Alemanha para dividir a cidade entre os capitalistas e os comunistas. O Muro evidenciava que o regime comunista era uma prisão: quem tentava sair acabava morrendo a tiros de fuzil pelos guardas da fronteira. Semana passada a dita “direita” brasileira comemorou a queda do Muro de Berlin. No entanto, a própria direita segue se esforçando para levantar Muros no Brasil. Veja que em Berlim, quem ergueu o muro foram os soviéticos. Aqui, a construção, inclusive, encontra apoio na base de oposição ao atual governo. Do outro lado do muro querem jogar todos os tutsis brasileiros: nordestinos e pobres – a mazela a qual os tucanos atribuem a sua derrota nas urnas.

A vitória de Dilma Rousseff despertou a ira da direita brasileira e a vontade de separar o norte/nordeste do sul/sudeste. O muro físico que se pretende levantar entre os brasileiros é menos importante que a barreira racista que tentam criar entre os eleitores do PT e aqueles que votaram no PSDB. Há quem pretenda lucrar com a divisão do Brasil e a oposição, especialmente aquela que se propaga nas redações das empresas de comunicação, incentiva a irracionalidade dos defensores do golpe militar ou do impedimento de Dilma Rousseff. A soberania popular investe o poder, mas os construtores do Muro do Brasil querem isolar os tutsis que reelegeram Dilma Rousseff, impedindo-a de eleger quem bem entende ou, no mínimo, limitar os efeitos da eleição presidencial que a oposição foi incapaz de vencer. Separar, dividir, segregar, discriminar, reduzir os direitos civis, tudo isto faz parte do programa dos construtores do Muro do Brasil. Isto explica porque mesmo derrotados os tucanos pretendem sabotar o programa de inclusão e desenvolvimento do governo reeleito?

Quem recebe Bolsa Família não faz parte do Brasil, deve ser colocado além do Muro. Os judeus ou tutsis, quer dizer, os nordestinos. Seu voto não deve ter o mesmo valor que o voto dos eleitores que percebem outros benefícios (caso específico das piranhas do Exército, que recebem pensões de 13 mil reais e se mantém solteiras, caso dos Juízes que recebem 3,4 mil reais de auxílio moradia). O processo de exclusão do ocidente representado pelo muro de Berlin era motivo de vergonha da esquerda. A exclusão promovida pelo Muro do Brasil é motivo de orgulho para a direita brasileira? Com a palavra os construtores de muros nos jornais. (http://jornalggn.com.br, 07/11/2014)

E aí me vêm com essa de “luto pelo Brasil”. Isso seria desistir do Brasil, meus caros. Do contrário, vamos nos esforçar para cobrar mais e exigir as mudanças prometidas. O que não podíamos era regredir.

E Cuba, definitivamente, não é aqui. Está mais para Ruanda. Não por causa do PT, mas pelo PSDB e seus simpatizantes. E assim voltamos aos tempos da guerra fria. Mas não entre os EUA e a Rússia, mas no próprio Brasil, iniciada e sustentada pelo Sul/Sudeste.

Sinceramente. Se forem separar o Brasil, me deixem do único lado coerente. É onde estou.