Mascaras do Tempo
Estava aqui queimando meus neurônios na tentativa de escrever essa crônica sem me dar dor de cabeça.
Pois é, tive uma daquelas.
Tudo começou quando alguém vindo lá da terra da garoa, que é a única coisa que está em falta nesses últimos tempos, me pediu para que fizesse uma crônica sobre qualquer coisa.
Tive pena dele. O homem estava tão magro como a Kate Moss e com os lábios ressequidos pela falta do precioso líquido na sua boca.
Vesti então minha máscara de bom samaritano e dei um pouco de água para o moço.
Que burrice a minha. De repente ele retomou sua força tipo Popeye quando come o espinafre e foi pra cima de mim gritando aos quatro ventos:
- E a crônica? Vai sair ou não?
Resolvi então vestir minha máscara de criança assustada e gritei:
- Já tá saindo, tio.
Escrevia, escrevia e nada saía. Um branco total.
Tentei de tudo. Usei todas as mil e uma faces que tinha. De canalha sedutor a canibal assassino passando por abismos e florestas em busca da crônica perfeita.
Nada feito. E o homem cada vez mais impaciente e nervoso pela crônica que não saía.
O desespero em mim era tão grande que eu parecia aquelas socialites que participam das colunas sociais que não achava a roupa certa pra festa.
E o dito cujo estava cada vez mais bufando no meu cangote de tanta impaciência. Até que me pegou pelo pescoço e disse com sua voz cavernosa:
- Vamos, escreve ó mascarado, antes que te leve a minha terra para oferecer sua vida ás deusas do tempo pra que elas façam a chuva voltar. Preciso de água e de uma crônica bem feita.
Tudo estava perdido. Não tinha mais água e as minhas ideias estavam tão secas como as represas da Cantareira.
O homem já estava pronto para me levar como oferenda as tais deusas do tempo. Era o fim.
No entanto, a sorte sorriu pra mim em um velho clichê que meu mestre sempre me disse para evita-lo.
Ainda tinha uma última máscara, a de garoto do tempo e graças a isso, pude terminar a tal crônica.
Ele nem me viu terminar o trabalho. Estava absorto em um telejornal que era exibido no bar ao lado onde uma moça do tempo, que usava um vestido branco igual aquelas vestais de um templo romano antigo, dizendo que iria chover a cântaros na terra dele.
Ao saber disso, ele se virou pra mim, leu a crônica que eu havia escrito e sorriu satisfeito pelo bom trabalho voltando feliz e contente para sua terra.
Depois de todos esses sustos, aprendi duas coisas.
A primeira é de que as moças do tempo são bonitas e deslumbrantes como flores de cerejeira.
E a segunda e mais importante é a de que as máscaras que usamos na vida são inúteis contra algumas pessoas que sabem enxergar seu verdadeiro eu através delas.
Desculpe, mestre, mas pra terminar esse fracasso de bilheteria preciso colocar mais um clichê nela.
Seja você mesmo.