Herança cultural nordestina,aos olhos de Zé Pernambuco e Maria esperança

Certa prosa, Maria Esperança e Zé Pernambuco conversavam... sobre esta coisa do preconceito, da insistência em considerar os do seu povo de “ pés rachados”. Ponderavam, entre um suspiro e outro, que muita coisa mudara nestes quarenta anos em que Zé Pernambuco veio para o sudeste. Viera em busca da chance, para ficar pouco...e acabou ficando sempre! As chances de trabalho seduziram Zé, e ele deixou mãe, avó , tia , para ganhar seu lugar no mundo.

Era um jovem, Zé Pernambuco. Aqui ouviu “ gazearem” de seu sotaque, ouviu falar demais da conta sobre a seca da sua terra, ignorou apelidos como” cabeça chata” e “ pés rachados”. Era o “ ignorante retirante” vindo de Araripina para virar estatística...Sentia falta de sua família , das filhas.....mas acabou criando as meninas aqui mesmo, no sudeste, que “ êita”... até incorporaram o sotaque daqui.... um pouco por receio ( não por vergonha) de serem chamadas “ retirantes, “filhas de “pés rachados”....

Zé Pernambuco ficou, conheceu sua Maria Esperança, viu mudanças políticas, econômicas, sociais, e para todas elas tem sempre uma explicação inteligente, sensata, na medida certa. Fala sobre politica e políticos, desvenda dúvidas economicas, supera sua “ suposta” ignorância”- Maria tem orgulho de seu homem, de seu amor, aprende com ele coisas da vida, do mundo.

Zé Pernambuco e Maria esperança andam tristes. As pessoas que se

dizem politizadas, sabedoras da verdade , andam acusando sua gente de ter feito escolhas erradas.....Mas quem está realmente certo? Quem pode acusar esta gente de “ pés rachados pela seca” de escolher apenas pelos seus próprios interesses?

A resposta da gente de lá é um novo conceito de vida, a geração de empregos, o respeito, a dignidade, o trabalho na mineração, o comércio que se sustenta, as práticas sustentáveis, a chegada de reforço humano para atender a novas demandas. A resposta do povo de lá é o orgulho de seus líderes, de seus escritores, de suas tradições, de seu folclore.O alívio para sua gente não está no líder escolhido, mas em cada um deles que se faz líder apesar de suas limitações.

A grande resposta da gente de Zé Pernambuco, está na frase que ele disse para Maria Esperança; “ Quando eu morrer, espero que minhas filhas possam jogar minhas cinzas lá sobre Araripina... e então... estarei voltando para o meu sertão” !

NADIA mONTEIRO DA SILVA - 08.11.14

Sororidade Contada em Prosa e Verso
Enviado por Sororidade Contada em Prosa e Verso em 09/11/2014
Reeditado em 09/11/2014
Código do texto: T5028632
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