Il Mio Castello Di Argilla
Tenho algumas lembranças queridas da casa da minha Nonna (avó) Catarina: o pé de Três-Maria (flor de primavera) que tinha ao lado da casa. As araucárias centenárias. Os vinhedos, os enormes pés de caquis (daqueles liguentos que só podíamos comer bem maduros) e os pés de ariticum (espécie de fruta-do-conde) que existiam em abundância pelos potreiros. Me lambuzava toda comendo essas frutas maravilhosas cada uma em sua época de maturação.
Mas, o que eu mais adorava era o porão e o sótão da casa. No sótão, a Nonna guardava umas enormes latas de alumínio com tampa. Não lembro se eram de margarina ou de azeite. Sei que umas continham mel e outras as mais deliciosas bolachas do mundo. Também era o lugar para armazenar a farinha de milho para a polenta e o trigo para o pão, além de outros alimentos que necessitavam de um lugar bem seco para não estragarem durante o ano.
Já o porão parecia uma geladeira. Sempre era fresquinho lá dentro. Era escuro, de chão batido, parecia úmido e mofado, e tinha um cheiro característico que eu amava. Adorava entrar lá. Ali a Nonna armazenava o salame, o queijo, a carne seca e alguns barris de vinho.
Sonhadora, como até hoje, soltava minhas ruivas tranças e no meu simples vestido de chita me imaginava uma principesca dona de um lindo e majestoso castelo de tijolos de barro. As galinhas soltas pelo pátio eram os súditos e as lindas e altas araucárias as torres onde ficavam os guardas que, de arco e flecha em punho, vigiavam minha fortaleza...
Naquela época, meu mundo cabia dentro daquele porão e meus sonhos ainda não tinham sido feridos pela longa lista de perdas que, ainda menina, a vida me outorgou pra sempre sofrer...