EQUAÇÃO SEM SOLUÇÃO?

          Vocês sabem muito bem o que significa um velório! Talvez em algum momento de suas vidas certamente já participaram desse ato de solidariedade humana. Isso não é nada demais, é o curso natural da vida, mas significa sem nenhuma dúvida quase sempre tratar-se de uma perda dolorosa. Esta perda, materialmente falando, é para sempre, não há volta. Espiritualmente, para aqueles que acreditam, é libertação, um novo caminho a ser trilhado. De qualquer forma, é sobre um tipo especial de velório que quero falar um pouco aqui. Talvez parecido com aquele do nobre e inesquecível poeta Mário Quintana em seu "Velório sem Defunto"! Reflitamos: A morte e a vida andam de mãos dadas, podem até ser entendidas como uma moeda, com cara e coroa, vida e morte respectivamente. Existência e não mais existência, permanente.

          Um velório sempre reflete a dor para alguém que ali esteja, menos para quem já morreu, pois já não existe. Vocês devem estar pensando em parar esta leitura macabra, porque afinal, onde isto os levará? Mas vou mudar o rumo e o caminho da conversa. Vou falar do velório em  sala de aula. Sala de aula? Sim. Infelizmente, precisar exatamente quem está sendo velado naquele recinto é uma verdadeira equação, subjetiva, mas que merece ser resolvida. O professor, os conteúdos ou os alunos, todos podem ser o X da questão! Aonde quero chegar? Vamos com calma. Quem ou o que se está sendo velado está inerte, ausente de vida própria. Em sala de aula hoje, tempos rápidos, modernos, os conteúdos são transformados constantemente, ganham novas roupagens, estão vivos em suas metamorfoses à medida que nos transformam também. Os professores, atores atuantes em metodologias diversas, inclusive ativas, procuram levar luz às trevas, conhecimento, libertar mentes, criar mundos próprios, despertar. Sobrou um membro na nossa equação velórica. O aluno.

          É sobre este membro que falo agora. Ele é o responsável pela forma como se dá o velório em sala de aula hoje, isso pela ótica reluzente da observação. A maioria dos alunos, não são todos, estão quase sempre ocupados com seus aparelhos celulares na hora da aula, embora seja do conhecimento de todos que isso não é permitido. Plugados em outros mundos, estão dispersos em uma dimensão que não a sala de aula, os conteúdos, o professor, os colegas, ficam a margem da abstração envolvente. É a mesma coisa comparada a um velório sem defunto, um corpo "presente", ausente do ambiente de aprendizagem, mergulhado na superficialidade da vida virtual. De vez em quando, acontece o milagre da vida, mas logo em seguida, renova-se o velório, sombras no conteúdo, embotamento do conhecimento, desvirtualização do aprender. A cada vez que vejo um aluno, e não são poucos, dando atenção ao seu celular em detrimento da aula, fico a pensar se eu ou os conteúdos não somos a causa mortis de toda esta geração, ou será que eu esteja diante de um suicídio coletivo? Eis a questão! O X, ainda permanece imantado em alguma rede social mantida pelo poder da fofoca.

 
Ricardo Mascarenhas
Enviado por Ricardo Mascarenhas em 08/11/2014
Reeditado em 28/07/2020
Código do texto: T5028084
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