O MANTO DA INVISIBILIDADE

O MANTO DA INVISIBILIDADE

08/11/14

Desde criança tinha um desejo dentro da irrealidade que as estórias vistas ou ouvidas nos trazem a mente: a invisibilidade. Harry Potter me fez relembrar tal desejo já em minha maturidade.

O manto da invisibilidade seria perfeito para em minha pré-adolescência eu poder entrar nas sessões do Pathê quando os filmes eram proibidos para menores de 18 anos. Ou penetrar nas festas para as quais não havia sido convidado, ou ainda dar vazão aos hormônios da juventude e poder ver por inteiro os corpos das garotas sem as molduras das fechaduras ou buracos nas paredes.

Seria ainda um instrumento de salvação quando ao ir namorar durante uma festa no banheiro social da anfitriã me vi escondido no Box do chuveiro esperando que os usuários das instalações se aliviassem, dentre estes o pai da namorada.

Foi no último dia primeiro em que mais uma vez o ditado que exulta a perseverança se fez verdade “quem espera sempre alcança” e eu alcancei a almejada invisibilidade. Casamento de um dos filhos de um primo irmão eu ainda me penitenciando através da ausência de uma parceira que me ofertasse carinho, companheirismo, cumplicidade, compreensão, atenção, diálogo, sinceridade e encontros com deus. Aqui coloco um ponto para ressalvar que sempre encontrei nas parceiras e, hoje sei, amadas, grande parte destas qualidades e outras não citadas, mas não todas juntas em uma só, e a ausência de uma destas qualidades foi o bastante para não eternizar a relação, falha minha.

Ao registrar isso sei que poderei precisar do manto de invisibilidade no próximo reencontro, mas voltando ao meu encontro com tal manto descrevo ainda todo o cenário que me cercava. Não estava premido por nenhum receio de ser flagrado por briosos agentes da lei seca, não dirigia. Estava na companhia de amigos de longa data que me conhecem mais que eu mesmo e o provam ao relembrar velhas “histórias”. Passo por uma fase de renascimentos onde aprendo que na realidade o que interessa é o futuro, o presente ao ser pensado é passado. Este, resumidamente, é o entorno da materialização do manto. Quanto aos ingredientes ao que me lembro foram “duas caipivodkas” no bar do Paulinho assistindo América x ABC, vários copos, copos não doses, de Black, entremeados de cubos de gelo e apenas dois salgados.

Só voltei a ser visível no domingo pela manhã quando uma dor de cabeça que não se localizava me fez imaginar a possibilidade de somente para mim tal in visibilidade tenha se mostrado o que me fez dirigir um telefonema e dois e-mail’s a três dos presentes me desculpando por possíveis excessos, mas parei por aí, pois afinal eu estava invisível e o presente já era passado.

Geraldo Cerqueira