É a Saudade necessária?
Saudade.
Quem nunca experimentou este sentimento, Saudade?
Quem nunca sentiu?
Saudade, sentimento que desperta certa dor, certa melancolia, certo mal-estar, certo... Por que sentimos então? Podemos controlá-la e não senti-la? Se ela é sentimento, uma emoção, a Razão seria o antídoto?
Saudade.
A saudade é uma neurose. Somos todos neuróticos e devemos agradecer à Vida por isto. Porque, dizem os entendidos, que o prumo de nossa sanidade mental é a neurose. Ser neurótico significa ser normal. É normal sentir medo, sentir falta do passado, mania disto e daquilo. Quem não é neurótico é esquizofrênico ou, pior, sociopata – não sente, só contabiliza razões egocêntricas. Se o neurótico é marcado por sentimentos – medos e manias, o esquizofrênico pela fragmentação da realidade que ele supõe e o sociopata pela ausência de sentimentalidade.
Distingue-se o neurótico religioso, o neurótico esportivo, o neurótico por limpeza, o neurótico acumulador, o neurótico vigilante e, entre todos, o neurótico saudosista.
Como descendente de português – etnia que morre de saudade de coisas além-mar – eu vivia com e de saudade. O meu presente se fazia de restos do passado: memórias. Tive muito que aprender a viver no tempo presente e projetar o futuro. Para isto um amigo me ajudou muito. Quando eu, com minhas ladainhas saudosistas, começava ele rebatia:
- O hoje é o Presente de Deus para nós. Aquilo que passou, passou!
De tanto expor neuroses saudosistas e ouvir este mantra como reposta me exercito para despojar-me de minhas memórias mortas. É um alívio, pois o ontem que não serve como experiência para hoje é um fardo que se acumula – um saco cheio de passadismo.
Fui à Agência do Correio. Tudo estava reorganizado: lugar para retirar senha para o atendimento; lugar para esperar o atendimento; lugar para ser atendido e lugar para sair após o atendimento. Quando eu estava na fase do “lugar para esperar ser atendido” a neurose da saudade me pegou:
- Que saudade quando eu ia aos Correios e havia só dois lugares: o balcão para postar correspondência e o balcão para retirar/enviar encomendas... Que saudade de... Opa!
Foi quando eu dei um basta naquele saudosismo que me leva a uma Barbacena que não existe mais e nunca existirá novamente porque tudo é mudança, é construção, é histórico.
Para me livrar da neurose do saudosismo vim para casa escrever este texto: minha neurose de escrever que é mais agradável que minha neurose saudosista.
Em vez de sentir a dor da saudade prefiro escrever – catarse!
Somos tão neuróticos que podemos nos dar ao luxo de optar por qual neurose que nós queremos atordoar os outros e a nos atordoar também.
Que leiam os neuróticos por leitura!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 08/11/2014.
Saudade.
Quem nunca experimentou este sentimento, Saudade?
Quem nunca sentiu?
Saudade, sentimento que desperta certa dor, certa melancolia, certo mal-estar, certo... Por que sentimos então? Podemos controlá-la e não senti-la? Se ela é sentimento, uma emoção, a Razão seria o antídoto?
Saudade.
A saudade é uma neurose. Somos todos neuróticos e devemos agradecer à Vida por isto. Porque, dizem os entendidos, que o prumo de nossa sanidade mental é a neurose. Ser neurótico significa ser normal. É normal sentir medo, sentir falta do passado, mania disto e daquilo. Quem não é neurótico é esquizofrênico ou, pior, sociopata – não sente, só contabiliza razões egocêntricas. Se o neurótico é marcado por sentimentos – medos e manias, o esquizofrênico pela fragmentação da realidade que ele supõe e o sociopata pela ausência de sentimentalidade.
Distingue-se o neurótico religioso, o neurótico esportivo, o neurótico por limpeza, o neurótico acumulador, o neurótico vigilante e, entre todos, o neurótico saudosista.
Como descendente de português – etnia que morre de saudade de coisas além-mar – eu vivia com e de saudade. O meu presente se fazia de restos do passado: memórias. Tive muito que aprender a viver no tempo presente e projetar o futuro. Para isto um amigo me ajudou muito. Quando eu, com minhas ladainhas saudosistas, começava ele rebatia:
- O hoje é o Presente de Deus para nós. Aquilo que passou, passou!
De tanto expor neuroses saudosistas e ouvir este mantra como reposta me exercito para despojar-me de minhas memórias mortas. É um alívio, pois o ontem que não serve como experiência para hoje é um fardo que se acumula – um saco cheio de passadismo.
Fui à Agência do Correio. Tudo estava reorganizado: lugar para retirar senha para o atendimento; lugar para esperar o atendimento; lugar para ser atendido e lugar para sair após o atendimento. Quando eu estava na fase do “lugar para esperar ser atendido” a neurose da saudade me pegou:
- Que saudade quando eu ia aos Correios e havia só dois lugares: o balcão para postar correspondência e o balcão para retirar/enviar encomendas... Que saudade de... Opa!
Foi quando eu dei um basta naquele saudosismo que me leva a uma Barbacena que não existe mais e nunca existirá novamente porque tudo é mudança, é construção, é histórico.
Para me livrar da neurose do saudosismo vim para casa escrever este texto: minha neurose de escrever que é mais agradável que minha neurose saudosista.
Em vez de sentir a dor da saudade prefiro escrever – catarse!
Somos tão neuróticos que podemos nos dar ao luxo de optar por qual neurose que nós queremos atordoar os outros e a nos atordoar também.
Que leiam os neuróticos por leitura!
Leonardo Lisbôa
Barbacena, 08/11/2014.