Eu e Deus.
Por Carlos Sena


 
Faz algum tempo que em dias de sexta-feira eu me desesperava. Meu nome era rua – barzinhos, encontros, festas. Parecia que o mundo se acabava numa sexta e que eu, por não saber se no sábado estivesse vivo queria consumir tudo em um único dia, a sexta-feira. E a sexta-feira passava e vinham outras pela frente e outros sábados também. Até que um dia a gente descobre (ainda bem) que podemos fazer “sexta-feira” em qualquer dia da semana. Descobre, sobremaneira, que o tempo passou e a gente, qual Carolina na janela não viu. Ou viu e não quis acreditar, ou em acreditando, não quis se entregar aos deboches que a vida nos impingiu como forma de consolação. A vida nos debocha quando nos deixa imagens fortes do que um dia fomos. Isso só até a “página dois”, pois a vida também nos diz sem deboche das suas regalias e dos seus prazeres. Diz-nos, sem palavras, mas utilizando a paz de espírito, os cabelos brancos, as rugas, que existir em plenitude é aceitar a vida como ela é. Não fosse assim a vida seria uma permanente sexta-feira onde “soltar a franga” e fazê-la se encontrar com todos os seus demônios se fazia imperativo. Porque a esbórnia cansa, o barzinho cansa, a noitada se cansa de si mesma. O amor não. A intimidade da nossa casa não. A vida meio “feijão com arroz”, não. As coisas simples como fazer pipoca para o amado, não. Ver um filme na tevê junto de quem se ama, não. Não cansam as coisas da simplicidade cotidiana. Por isso, hoje, as sextas-feiras me são iguais em paixão. E eu consigo ser Domingo numa segunda, porque dentro de mim eu consigo ser Deus e como tal mando no meu mundo.