Ensaio sobre o encontro inesperado

Há pouco mais de um ano, impulsivamente, discuti com uma pessoa que durante grande parte da minha pré-adolescência esteve junto comigo: em momentos tristes, felizes e nos meus desejos mais íntimos. Depois desse episódio, cessamos a única ligação que tínhamos. Não havia mais amizade, conversas à toa, tampouco poemas entregues de repente. Confesso que senti uma falta absurda; confesso, também, que ao longo das semanas quis saber se ele estava na mesma situação que eu. Não o procurei; o destino, entretanto, cuidou disto.

Noite passada - uma quarta-feira -, aconteceu de eu vê-lo. Fui surpreendida por sentimentos diversos (ele também, descobri posteriormente); tocou em meu cabelo, nas maçãs do meu rosto. Brincou com minha barriga (algo fora do comum) e, por várias vezes, o flagrei sorrindo.

Ele estava diferente. Tinha um ar mais sério e retraído; costumava esconder tudo de todos. Essa noite, mostrou o contrário. Até concordou que no passado não foi justo comigo - nem com nossa relação. Aproveitamos a oportunidade para sermos sinceros. E fomos. Desenterramos situações que jamais imaginaria lembrar; a nostalgia foi mais forte: fez de nós suas vítimas. Apanhamos dela e não hesitamos; o nocaute seria o amor que outrora cultivamos, mas que hoje faz parte daquele mundo o qual um dia fizemos parte.

Chegou o momento em que ele teve de ir embora (queria ele perto de mim. Queria ainda mais o mesmo envolvimento de antes, o mesmo menino. O meu menino), acompanhei-o até um determinado lugar; nesse meio tempo, demos valor a esse acaso e fizemos dele nosso caso particular. Conversamos um pouco mais. Nossa pauta em questão foi o futuro e o colocamos em segundo plano; o presente se fez vencedor.

Na hora da despedida, ele segurou em minha mão. Perguntei o que pensava sobre mim mais cedo, porém, sua resposta permanecia inalterada: não se pode fazer tudo o que queremos. Insisti um pouco mais, ele riu e pediu que voltasse; contrariando seu pedido, não voltei. Ainda bem. Nos minutos seguintes, soubemos que a sintonia era a mesma. Cinco anos evocou-se quase que instantaneamente; nos beijamos. Eu pertencia a ele, o mesmo alguém que um dia foi importante em minha vida. Ele me pertencia. E o acerto de contas foi ali: naquele espaço tão pequeno e tão nosso. Suas mãos me envolveram por completo, me rendi. Eu era a razão do seu sorriso, da sua felicidade, mesmo que efêmera.

Eu o interrompi, não queria que estivesse sob alguma incerteza. Então, deixei-o ir.

Olhou para trás algumas vezes para certificar-se de que eu estava lá. Embora exista a possibilidade de encontros como esse nunca mais acontecerem, eu estava. E sempre estarei. O amor que antes sentíamos, hoje, reside em nossos corações e está apenas hibernando.

A liberdade e a vontade de dar uma nova chance para nós pode estar à nosso favor.

LarissaRodrigues
Enviado por LarissaRodrigues em 06/11/2014
Reeditado em 17/05/2015
Código do texto: T5025588
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