GOLPE, NÃO!!!(uma viagem ao tempo da censura)
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À Sandra Regina Henriques
Golpe, não!
Todo golpe, pelo método que venha acontecer, sempre traz um vermelho de sangue em sua cor! Fiquei estarrecido com as manifestações de protesto contra a falta de água em São Paulo e observei pessoas jovens pedindo à volta do Regime Militar, como se isso fosse a solução do problema. Só pede a volta do militarismo, quem não viveu o militarismo, os anos de chumbo, a repressão, à falta de liberdade, a censura à imprensa. Eu vi, vivi e fui duramente censurado porque eu também tinha o ímpeto de jovem rebelde sem causa, mas protestava. Também tenho escutado e lido muito sobre pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Sou radicalmente contra qualquer tipo de pensamento sobre esses assuntos!
Li nas redes sociais que uma vereadora de uma cidade de Natal sugeriu que todos os Estados que votaram e ajudaram a eleger Dilma Rousseff presidente do Brasil para mais um mandato, fossem transformados na Cuba brasileira. Depois li que a presidente do TRE de Alagoas teria ficado decepcionada com a reeleição de Dilma. De quem recebi as informações, explicou-me que só estavam exercendo seus livres direitos de opinião. Concordei, mas ponderei que ambas não deveriam ter usado seus cargos e, sim, se manifestado como simples pessoas do povo. Se estivessem insatisfeitas, que renunciassem porque a votação em Dilma foi legítima, democrática, mas restaram 4 milhões de eleitores que se omitiram em votar, votaram em branco ou anularam seus votos. Isso é um dado preocupante!
Quando deixei de ser chefe de mídia na Saga Publicidade, me aventurei a fazer um teste para trabalhar em A NOTÍCIA, em 1979, jornal sabidamente de oposição aos Governos militares, quem quer que fosse o indicado para o Estado do Amazonas. Cursava o período do Curso de Comunicação Social. Fiz o teste e fui aprovado, começando a trabalhar. Vivi parte do período da censura aos jornais. Com pesquisas junto ao jornalista Gabriel Andrade, Editor de A NOTÍCIA, registrei no livro DE JORNALEIRO A JORNALISTA – UMA HISTÓRIA DE VIDA (in carloscostajornalismo.blogspot.com) como foram duros os anos de censura militar: jornais foram “impastelados” e proibidos de circular, censura dentro da redação em que iniciei minha carreira. Tive censura direta aos meus textos políticos com jogos de palavras que datilografava na máquina Olivetti, línea 98, que passou a ser minha amante, com quem desabafava meus amores, minhas dores, angústias, tristezas e decepções e terminei por escrever a premiada crônica MINHA AMANTE, publicada em uma de minhas obras, também no blog.
Em 1982, venci um concurso nacional de literatura na cidade de Paranavaí, no Estado do Paraná e pedi passagem aérea ao poeta, vice-presidente da ALE Homero de Miranda Leão que exercia o governo interino no lugar de José Lindoso porque disputaria eleição ano seguinte, ficaria inelegível e o indicara. Recebi a passagem de ida e volta e dinheiro para despesas que teria com o deslocamento àquele Estado frio e desconhecido, em voo em da Transbrasil. Em São Paulo, durante um Congresso de Assessores de Comunicação, realizado no Hotel Escola do SENAC, no Município de Águas de São Pedro, ouvi do jornalista “Peninha” de Goiás, a frase que resumia bem a vida de um Jornalista e àquele meu momento: “Jornalista é um pobre miserável rico. Se hospeda nos melhores hotéis, bebe das melhores bebidas, come das melhores comidas, mas está sempre liso”. Depois de receber o prêmio no teatro da cidade, me desloquei de ônibus para conhecer a pessoa que o coordenou o Concurso e de quem me tornei amigo: professora Rosa Maria, que residia em União da Vitória, as margens do Rio Iguaçu, divisa de Porto União, em SC, separadas por uma linha de trem. No ônibus articulado da viação Garcia, deixei o Estado do Paraná e rumei direto para a Estação da Luz, em SP, com o dinheiro do prêmio e um troféu em forma de taça, roubada, em Manaus, por algum ladrão intelectual frustrado.
Decidi conhecer a amiga de correspondência há anos, Sandra Regina Henriques. Telefonei: “como faço para chegar a Santos?” “Onde você está?” “Estou hospedado em um hotel barato na Estação da Luz”. “Faz o seguinte: pegue um metrô para Jabaquara, desça na Estação, pegue um ônibus e venha direto a Santos que te pegaremos na Rodoviária”. Eu lá sabia o que era metrô? Em Manaus não e não existe esse meio de transporte e talvez nunca existirá! Sai perguntando pela cidade cheia de prédios e estranha para mim, mas cheguei à Estação Jabaquara. Tudo era novidade e diferente. Desci dentro da Estação, caminhei, peguei o ônibus para Santos e desembarquei na cidade da prefeita Telma de Souza. Lá estavam na Rodoviária, Dona Elvira, mãe Sandra, filha. Sabia que era ela porque havia recebido uma foto 3 X 4 , em preto e branco. Era minha amiga. sim!
Fiquei hospedado na casa da Dona Elvira. Seu pai, o senhor Henriques, trabalhava na Petrobras de Cubatão. Tinha lido matéria que crianças estavam nascendo sem cérebro no município, devido o excesso de poluição. Vi muita fumaça quando passei, mas se era verdade ou não o fato, não posso dizer. Com André Henriques, irmão de Sandra, músico da noite santista, visitei o cais do porto, local de prostituição e onde ocorreu o primeiro registro de Aides no Brasil, atolamos na areia da praia com um bugre, atravessamos em uma balsa por um pequeno braço de mar que separa as duas cidades, visitamos e comemos outras cruas na Praia dos Pescadores em Guarujá. Conheci a Biquinha em São Vicente e a ponte de corda. Foi uma viagem deliciosa, marcante e inesquecível. Em Manaus, fiz constar em meu primeiro livro de poesias (DES)Construção...1979 (1a Edição) o poema ARNAS SOLRAC, que dediquei à Sandra Regina, pelo período em que vivi em sua casa. Eu era tímido e buscava amigos ou amigas em anúncios de Revista. Acho que comecei a me corresponder com a Sandra através de uma religiosa de sua igreja, mas não lembro o nome. Não esperava receber resposta de nenhuma de minhas cartas, mas recebi a da Sandra e fiquei feliz! De volta ao Jornal, fui demitido pelo novo proprietário, porque passei mais de 30 dias viajando, porque tinha duas férias vencidas e também porque não fui escrever sobre a inauguração de sua fábrica no Distrito Industrial, Jacks da Amazônia. Mas isso é outra história.
Voltando a da crônica, não aceito golpe contra a presidente Dilma Rousseff, desci do palanque, desembainhei as armas e assisto de camarote, jovens se manifestando, protestando pedindo a volta do regime militar, que eu vivi como jornalista e não quero vivê-lo nunca mais. Deixem a presidente Dilma Rousseff apurar o escândalo da Petrobras, como prometeu, não deixando pedra sobre pedra. E vamos esperar os resultados!