Amanhã poderá ser tarde...
Por Allan Garrido
Otávio era um homem muito ocupado, mal tinha tempo para almoçar. Empresário bem-sucedido no ramo do aço, dinheiro não era problema. Carlos ou Carlinhos era seu único filho, fruto de um relacionamento com Marta, sua ex-mulher. Carlinhos adorava o seu pai e sempre o convidava para bater uma “bolinha” com ele. Mas, infelizmente quase nunca podia. Em seu lugar mandava o motorista “brincar”.
Num dia, sentindo muito a ausência de Otávio ele perguntou a sua mãe:
- Mamãe, por que o papai nunca brinca comigo?
- Ele é um homem muito ocupado meu filho!
- Mas será que nem um pouquinho?
- Mesmo esse pouquinho é difícil para ele meu anjo!
- Então está bem... – responde o menino cabisbaixo.
O menino correu para o seu quarto e lá se trancou. Deitado, mexia quietinho nos seus brinquedinhos. De repente começou a se sentir mal, uma espécie de tontura que não o deixava levantar ficar em pé. Quando ele tentou, acabou caindo no chão desmaiado. Mais tarde, sua mãe foi chamá-lo para jantar e disse:
- Carlinhos! A janta está pronta, vamos! Vai esfriar meu filho!
Nada de resposta um silêncio imperava do lado de lá. E ela continua:
- Vamos meu filho, vamos! Carlinhos?
- Para de bobagens, responda para a mamãe!
Marta notara que algo estranho estava acontecendo. O menino nunca fazia isso, nunca deixava sem resposta. Quando ela entrou no quarto dele o viu caído no chão desmaiado. O desespero tomou conta não sabia o que fazer! Chacoalhava, chamava e nada, nada de Carlinhos responder...
- Pelo amor de Deus meu filho fale com a mamãe, volte! Volte!
E o menino nunca mais voltou, desmaiou para não mais acordar. Um aneurisma arrebatou-o para sempre dos braços daquela amada mãe. Quanto sofrimento, quanta dor! Um universo de sentimentos parecia explodir no coração machucado dela. Mas ainda teria que ter forças e ligar para o pai dele:
- Otávio! Otávio!
- Olha se for pra pedir que eu vá jogar bola, ou para ver o Carlinhos pode esquecer não tenho tempo!
- Mas me escute, por favor!
- Não, tenho tempo Marta o que você acha que eu sou? Preciso trabalhar para pagar os teus gastos, a tua pensão! Que, aliás, é bem gorda por sinal.
- Escuteeeeee! Você não precisa se preocupar com mais nada, não precisa mais jogar bola, fazer nadaaaaa!
- Como assim porque está falando isso?
- Teu filho acabou de falecer, seu idiota, será que agora você terá tempo de ir ao velório dele?