Foi por pouco. De novo. (17/11/06)

Existem derrotas e derrotas. Algumas, como a da seleção de futebol na Copa deste ano, dão raiva. E apesar de se tratar de uma desclassifição do torneio mais importante do esporte, são merecidas. Outros reveses, tomando o time de basquete feminino em Atlanta-96 como exemplo, são comemorados. Afinal, ter chegado à decisão das Olimpíadas já foi uma vitória e a medalha de ouro era uma utopia tendo em vista que a equipe estadunidense era infinitamente superior à brasileira. Ainda existem aquelas derrotas tristes. Jogos equilibrados cujo placar é liderado ora por uma equipe ora por outra. Partidas cujo vencedor é decidido apenas no finalzinho, no detalhe. Encontros, portanto, em que não se pode relaxar ou baixar a guarda, se não o adversário se aproveita da situação e liquida a fatura. Foi o que aconteceu na madrugada do dia 16, que poderia ter entrado para a história do voleibol nacional como o dia (ou a noite) em que o time feminino do Brasil sagrou-se campeão do mundo. Mas não entrou.

A expectativa sobre o desempenho da equipe de Zé Roberto era enorme. Não sem razão: o selecionado brasileiro não perdia um campeonato desde a Olimpíada, há dois anos. Chegou bem à fase final do torneio, invicto – o que aumentou ainda mais a esperança dos torcedores brasileiros. Após semifinais tranqüilas para ambas as equipes, Brasil e Rússia confirmaram o que já estava se ensaiando desde a primeira semana do Mundial e se garantiram na grande decisão. A primeira parcial da final foi sensacional. O potente saque brasileiro quebrou a recepção russa, tornando ainda mais óbvia a distribuição de bolas da fraquinha Akoulova. No segundo set, observou-se exatamente o que faltou no primeiro: equilíbrio. A tão suada para ser construída vantagem tupiniquim, porém, não foi mantida e as soviéticas venceram por 25 a 23, após erro de ataque de Sheilla. O terceiro foi uma tragédia, 25 a 18 Rússia. Os papéis haviam se invertido: eram as atuais bi-vice-olímpicas que faziam a festa. Godina destruía no saque, Sokolova e Gamova arrasavam no ataque e Akoulova, quem diria!, levantava direitinho. Ao Brasil, então, restava vencer a parcial seguinte e forçar o tie-break. Matar ou morrer. Com um apertado 25 a 20, a decisão da decisão ficou para o quinto set. Adrenalina a mil, nervosismo à flor da pele... Todos esses lugares-comuns servem para descrever os momentos que antecederam o tal tie-break. Este, aliás, seguiu o exemplo do jogo como um todo e foi disputado ponto a ponto. Tanto que, logo após um raro erro de ataque de Sokolova, Giovanni Caprara parou e pediu tempo. A situação canarinha no momento se não chegava a ser estupenda, era muito boa. Afinal, ter dois pontos de vantagem a dois de vencer o campeonato não é de se jogar fora. Porém, o Brasil jogou. E isso que ainda teve o contra-ataque com Sheilla para abrir 14 a 11. Não o fez. Por outro lado, Gamova não titubeou e derrubou a bola e a diferença no placar para um ponto. Saque russo, a seleção brasileira teria sua segunda chance de chegar ao match point. Entretanto, a oposto Sheilla voltou a dar bobeira e, desta vez, errou a paralela deixando tudo igual em Osaka. Daí foi a vez de José R. Guimarães parar a partida. Na volta, a pedidos do próprio técnico e ignorando o fato de que Akoulova já tinha bloqueado Jaqueline duas vezes durante o jogo, Fofão empinou para a ponteira. Não deu outra, 14 a 13 Rússia. O segundo tempo consecutivo do time brasileiro seguiu o exemplo do primeiro e não surtiu efeito algum. O serviço de Sokolova nem fora tão complicado, mas devido ao nervosismo do momento e à deficiência técnica na recepção, ironicamente Mari falhou no passe e entregou a bola de cheque para a maior pontuadora da final, Gamova, fechar a partida. Digo ironicamente por motivos óbvios (caso não lhe pareçam os motivos tão óbvios assim, Mari errou nos momentos decisivos da última derrota brasileira em Olimpíadas, justamente contra as russas). O que torna ainda mais irônico é que a agora ponteira brasileira havia entrado bem na partida e não havia comprometido muito no passe até o ponto decisivo. Coisas do esporte.

Comparações com a famigerada semifinal em Atenas, porém, não devem ir além. As situações nas duas partidas eram bem diferentes. Enquanto ter 5 match points seguidos e não os aproveitar é uma aberração esportiva e muito provavelmente não se repetirá no cenário internacional voleibolístico por um bom tempo, dispor duma frente de 13 a 11 e levar uma virada vive acontecendo. Não que seja a coisa mais normal do mundo, mas se tratando de vôlei feminino...

Apesar do nítido sentimento de que a seleção feminina nacional de vôlei vence quando não precisa e perde na hora do vamos ver (vide Atlanta-96 e Japão-06), o atual selecionado brasileiro merece nossas homenagem. Afinal, trouxe da Ásia uma honrosa medalha de prata; coisa que não acontecia há 12 anos. E mesmo ficando aquela sensação de que está na hora de acabar com essa história de tirar lições de derrotas e finalmente vencer, as meninas do Brasil colocaram o nosso país no topo do vôlei feminino mundial e passaram a ser temidas por todas as seleções do globo. Vamos ver se em Pequim, todo esse temor se justifique e o Brasil dessa vez volte do Oriente com o ouro.

bbc
Enviado por bbc em 26/05/2007
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