SOBRE NOSSAS FOTOGRAFIAS
 
                                  Devo ter lido em algum lugar a frase que repeti, quando me perguntaram como fiz para passar no vestibular da UFRGS em Direito, naquele ano de 1988, ano em que ela era a mais concorrida entre todas as Faculdades Federais no Rio Grande do Sul. Aliás, o destino me acompanhou desde 1971, quando passei pela primeira vez no concurso vestibular. A Faculdade de Medicina da UFRGS era a preferida dos vestibulandos.
                                  Fui aluno de avaliação média no curso formal da Faculdade de Medicina. Mas lembro de ter “bombado” na residência em Gastroenterologia, na enfermaria 27, da Santa Casa. Ao que lembre (são lembranças difíceis, de tempos duros) fui classificado em primeiro lugar ao final da residência, tanto que fui convidado a permanecer, para cursar o terceiro ano de residência, com ônus que não poderia suportar naquela época (não receber pelo trabalho e atender os clientes do “Chefe da Cadeira”, sem nada receber). Em contrapartida, teria treinamento em “Endoscopia Digestiva.” Acho que foi neste tempo que fiz minhas escolhas políticas! 
                                  Em 1987, com 37 anos e onze de exercício da Medicina, descobri que estava no lugar errado. A constatação tinha vindo de crises “existenciais” e um processo terapêutico que não cabe ser discutido neste momento. O fato é que, aos 37 anos, depois de dezoito anos afastado dos bancos dos cursinhos preparatórios para vestibular, eu havia decidido concorrer novamente. E havia decidido que uma única escolha eu faria: a UFRGS. Até porque, ao ter abandonado a profissão de médico, com dois filhos para sustentar, não teria como bancar os custos de uma universidade particular.
                                  O desafio me fora dado no início de outubro, numa festa de aniversário de meu irmão mais velho, que era advogado. Queria que eu trabalhasse com ele. A idéia, rechaçada de início, ganhou forma durante o mês e, no último dia de inscrições, fui lá e coloquei meu nome entre os candidatos.
                                  Ao ver a relação de aprovados, repeti a frase: “O diabo é o que é porque aprendeu com o tempo, não porque tem poderes especiais.”
                                  O tempo é o maior poder dos velhos, ou dos vividos, ou dos experientes. Quanto mais cedo nos tornamos experientes, mais cedo adquirimos poder, que o conhecimento é a arma mais poderosa que alguém pode ter.
                                  Agora, depois desse tempo todo, olhando as fotografias da época em que estivemos juntos, lembro apenas o quanto te amei e continuo te amando.
                                  É que, como o diabo, aprendi com o tempo!