Recaída
Sentimento estranho. De repente tive vontade de viver algum tempo em uma cidade completamente nova para mim. Onde existisse somente o presente e em toda direção em que olhasse houvesse apenas o novo.
O Incomparavelmente novo.
Desperto com uma voz em mim dizendo:
Podemos partir em busca deste lugar, mas pense que teus escritos já não terão mais nenhuma graça, ou você terá que esperar muito anos para que este lugar fique encantado toda sua poesia possa emergir.
É, pensando bem, não há mesmo graça na realidade.
Talvez porque eu passei pela praça principal uma tarde destas e a vi cheia de um vazio imenso.
Árvores tristes, pássaros tristes;
Nem sombra da beleza daqueles tempos.
Foi-me impossível não parodiar Borges e deixar escapar este lamento:
"Eu vivi em uma cidade que também se chamava Santa Rita"
Recordo-me de um dos últimos documentários que assisti com Rubens Alves, com cenas realizadas em um parque onde ele costumava brincar na infância. Ele estava desapontado em ver como tudo tinha mudado , e que já não era tão bonito como naqueles tempos idos. Lamentou dizendo, que não devemos revisitar estes lugares mágicos da nossa infância porque eles não nos pertencem mais.
Voltei ao livro do Proust e depois de algumas linhas já estava em um trem deixando o arrebalde de Paris rumo à Combray.