Quadrados de céu

O céu. Tão azul, tão grande, tão inspirador.

Olhando pela janela, deitado em minha cama, na busca por uma ideia, palavras interessantes para rabiscar, olho para o céu.

Da antiga janela de madeira entram os luminosos raios cheios de vida do sol e vejo aquelas belas listras azuis.

Sim, listras.

A grandeza do céu é exibida cortada pelas grades protetoras da janela, fatiado pelos ferros da segurança humana, o azul sonhado por Deus em infinita liberdade mostra-se engaiolado.

Antes fossem as grades o único empecilho.

Mais a frente no olhar, poucos metros acima, os fios da rede elétrica cruzam de poste em poste riscando mais um pouco minha visão do céu.

Um xadrez se forma com os riscos cruzados de grade e fio.

O incômodo dessa rede entre meus olhos e o céu leva a pensar... Talvez o proteja de meus pensamentos. Talvez o céu realmente precise de proteção.

Viajo.

Penso na frieza e desesperança onde o céu é cinza todos os dias, um cinza pintado pelo homem e suas fumaças, não pelos temporais que algumas vezes banham o mundo. A tristeza de tantos que já se esqueceram da existência das estrelas, pois não podem vê-las à noite.

Há ainda pessoas que não sobrevivem sem o céu.

Contento-me em olhar para minha fatiada porção de infinito.

Ainda posso ver as nuvens dançando com o vento, os pássaros brincando numa montanha russa invisível e as pipas com suas coloridas rabiolas bem ao longe, por meus quadradinhos de grade e fios.

A brisa entra no quarto e acaricia as páginas abertas de um livro esquecido aberto.

Suspiro ao som das páginas virando, pisco profundamente e volto a encarar o azul fatiado e ensolarado.

Palavras passam a brotar de tão preguiçosa cena...

Ai de mim se fecharem as cortinas!

Aluã Rosa
Enviado por Aluã Rosa em 03/11/2014
Código do texto: T5021410
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