As flores e os mortos

     1. Hoje cedo, recebi um delicado telefonema de um parente. Já a caminho do cemitério, ele queria saber a que horas eu estaria rezando no túmulo de minha mãe, morta em fevereiro de 2003.
     2. Disse-lhe o que todo mundo já sabe, inclusive ele, ou seja, que detesto cemitérios; e que nem no dia dos finados reverencio meus mortos, visitando-os na sua última morada. Não escondo: sofro de tanatofobia.
     3. Pedi-lhe, que sobre o túmulo de minha mãe, enterrada no Jardim da Saudade de Salvador, ele lançasse, com carinho e saudade, uma flor vermelha, rezando, em seguida, uma Ave-Maria. E que deixasse comigo a prece pelo meu pai, enterrado no Ceará.
     4. Uma flor vermelha! A flor, escreveu hoje, Dia de Finados, no seu artigo dos domingos, o arcebispo de Salvador, dom Murilo Krieger, é "a expressão de nossa homenagem, muito mais importante e significativa do que erguer uma estátua daquelas pessoas que têm lugar especial em nosso coração."
      Li o artigo de dom Murilo - Uma flor, uma prece, um compromisso - e ficaram comigo os ensinamentos do pastor, na sua maneira religiosa de ver o Dia de Finados. 
     6. O Dia de Finados, para mim, antes de ser um dia só de lágrimas é também um dia de se falar de flores, pois, "Umas enfeitam a vida e outras enfeitam a morte", disse Bob Marley, o rei do reggae, falando sobre o estranho destino das flores.  
     7. Por isso, aos mortos que conheci e aos que não conheci, cremados ou enterrados em suntuosos mausoléus ou em modestas covas rasas, envio flores, muitas flores.  Requiescant in pace.
Felipe Jucá
Enviado por Felipe Jucá em 02/11/2014
Reeditado em 16/11/2014
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