Temáticas recorrentes

Temáticas recorrentes

É admirável perceber o quanto estamos envolvidos com nossa produção cultural, que antes era um dos fatores determinantes das cidades e cada vez mais vai sendo jogada às vielas mais obscuras deixando às grandes avenidas iluminadas e abarrotadas de outdoors e templos do consumo (para usar a terminologia hoje na moda). E como estamos intrinsecamente inseridos nesse caminhar da civilização, tendo ela um objetivo claro ou obscuro, estamos sujeitos a esses mesmos. E a concretização das cidades é a concretização do modelo de evolução humana, se manifestando em cada construção, arte, em cada cultura. Antes determinantes nos caminhos percorridos, agora já integrantes de uma zona lateral da estrada.

E mesmo estando um pouco afastados da crítica e da produção artística de nossos tempos estamos inevitavelmente sendo espelhados pelas produções, já que a arte nada mais tem a mostrar que a própria essência da realidade em que é produzida. Retratando fielmente ou de forma embaçada essas manifestações tendem a se misturar e se renovar (sem contudo se revoltar) em sua temática.

Se analisarmos, poucas são as temáticas existentes. E até um determinado tempo existiam temáticas a serem descobertas o que, atualmente, já ocorre de modo determinado. Pois vemos que é praticamente impossível criar-se uma temática nova sem que essa novidade esteja inserida dentro de um tema mais universal abordado antigamente. Temos essa especificação das temáticas que ao invés de tratar do tema em si, aplica-o em determinadas situações e estudos que beiram o quase único e improvável.

No mundo super especificista em que vivemos essa recorrência de temáticas deveria ser quase impossível, por se tratar de enfoques bem particulares, mas o que vemos hoje em dia?

Vemos a indústria das temáticas que melhor são aceitas. Ou seria a indústria da imposição delas? O importante é notar que o que vemos nos cinemas, livros, peças teatrais, produções artísticas e a mera repetição indiscriminada de tipos e técnicas, sem muito sucesso em sua exploração única. Já que estamos na era do estudo aprofundado, dos MBAs, dos super doutores em assuntos que quase se diz que não sabem nada, mas tudo daquilo que sabem. A pessoa escolhe um ponto no meio do espaço e aprende tudo possível sobre aquele ponto.

Essa falta de originalidade em meios super específicos nos torna idiotamente ridicularizados pelos produtores que tentam nos passar algo absolutamente desnecessário como obra de arte, produção artística. E quando vemos gastar-se centenas de milhões ao produzir um filme, mais centenas em sua publicidade e um retorno de no mínimo o dobro de todo o investimento vemos que se trata realmente de uma indústria da mais canhestra possível.

E assim como é no cinema, vemos (em menores escalas) os espetáculos teatrais, as produções literárias, as mostras artísticas, etc. Temos as indústrias que vão tomando conta das produções artísticas aos poucos e globalizando-as. E se uma obra não dá um retorno de 1000% ela não é rentável e por isso não merece ter investimentos. Por isso vemos pessoas que ganham a vida repetindo grosserias e fazendo coisas toscas. Pois ao se encaixarem nos moldes necessários para serem vendidas e terem seus lucros multiplicados são reconhecidas pelos públicos. O que torna a viabilidade de uma produção de médio e grande porte inviável se ela não se enquadrar em determinados moldes.

São essas temáticas que pouco acrescentam no quesito artístico a população, criando-se uma justificativa viável (psicologicamente) chamando esse novo tipo de arte de entretenimento.

Entretenimento então foi equiparado a uma fruição do nada, em moldes escapistas e totalmente conhecidos.

O que aconteceria então com a diversão de aprender, evoluir, crescer? Estamos cada vez mais perto de crianças e jovens que dizem que tudo que lhes faz raciocinar é chato, é coisa do passado, "dá no saco". Enfim, tudo que não é temática industrializada lhes passa como alternativa ao normal, ou como coisa alternativa. Criando-se uma segregação no modo de fluir e enxergar as obras mais abrangentes.

Quando vemos num filme o conceito de "Comédia Romântica", ou em um livro um "Thriller", reduzimos totalmente a nossa capacidade de concepção de um tema a um mero estereotipo determinado fazendo com que cada vez mais distanciamo-nos dos detalhes fundamentais da produção e fixemos nossos desejos no molde.

Então vemos uma moldagem de certos assuntos e o distanciamento dele de uma produção rica no desenvolvimento, mas riquíssima na variação das roupagens. Vemos o mesmo filme algumas dezenas de vezes durante o ano, mas trocando atores e situações específicas, mas no fundo vemos a mesma coisa. Essa falta de discernimento é que está trazendo cada vez mais à tona essa cultura imediatista, onde encontra um molde pronto e adorna sua superfície com enfeites diferentes.

Ao analisar sobre as temáticas recorrentes acabo descobrindo que o que conta atualmente é o molde em detrimento da produção e variação da essência como forma engrandecedora do espírito. Ficamos com um aprofundamento no nada, o que significa ser especialista em coisa alguma, que é como são nossas novas mentes e gerações. Elas sabem de pouco e muito. Saber pouco de nada é nada. O que nos deixa, desse modo, um pesar na consciência.

Não ataco aqui as produções industrializadas, apenas refiro-me a elas como moldadoras de barreiras mentais em milhões de pessoas ao redor do mundo, quais procuram cada vez mais se contentar com o molde pré-determinado e satisfazer-se com uma indústria do entretenimento e não encará-la como deformadora das faculdades mentais dos seus espectadores. Não por apresentarem produtos, e aqui produto entra como peça da produção industrial seja ela cultural abstrata ou concreta, medíocres em suas concepções, mas por atuarem ativamente na formação da mentalidade global com essa prática que somente visa ao lucro.

leandroDiniz
Enviado por leandroDiniz em 13/09/2005
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