OLHOS DA CHUVA

...Via da janela do fundo, que dava de frente ao meu quintal, as folhas do cajueiro que amareladas caiam. Era uma tarde preguiçosa e nublada, visitada vez por outra, por aqueles ventos que assobiando, promoviam o bailado bonito dos galhos retorcidos da pequena frutífera do cerrado predominante na minha terra.

Assistia absorto ao espetáculo transitório das estações, findava o período de estiagem e iniciava o chuvoso. Foi aí então que fez chover o meu olhar!

Havia a alegria das novas folhas que certamente viriam, como também o frescor do tempo o qual traria a fumaça do fogão de lenha anunciando a fartura... porém, o frio causado pela chuva fina que insistia cair antecipando o escurecer da noite, calara a minha voz e roubara o meu sorriso.

Emudecido e perplexo, fui tomado de assalto pelas lembranças de uma infância longínqua e feliz. Feliz pela riqueza de bem querer, de afeto, de abraço, de respeito,,, de amor. Cabia tudo, na humilde choupana de palha, a qual transbordava desses valores que enobrece a alma em contraste à carência de bens materiais e às vezes, até mesmo de alimentos, deixando os meus pais de estômagos vazios, para saciar a mim, aos meus dois irmãos e ainda o rex, um vira latas lindo e dócil.

Seu Antero e Dona Badinha, sorriam e cantavam, deixando-nos longe da triste realidade da terra onde morávamos... era os gerais, no sul do Maranhão.

Não posso dizer que não fui feliz, nem devo reclamar da sorte, ou até mesmo da falta dela, posso sim, e devo, agradecer a Deus por ter tido pais tão generosos e felizes, a ponto de gerar alegria meio a tanta tristeza

Da mesma janela que me fez chover os olhos, observo o meu viver nos dias atuais, e a chuva agora é alegre com luzes coloridas projetadas na minha mente, no escuro da noite que chegou e que nem havia percebido. O meu pensamento que voou, me levando à infância, me trouxe ao homem que aprendeu com outro homem e com uma doce e meiga mulher, a ser o homem que me tornei.

Obrigado meu Pai, abrigado minha Mãe, O ponto final é uma lágrima de amor e saudade!

GEORGE PAULO
Enviado por GEORGE PAULO em 01/11/2014
Reeditado em 07/12/2014
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