Estapafúrdia Medida
A pequena cidade de Borborema, no interior paulista, foi tomada pela comoção de um velório com a presença de cerca de 1/5 de sua população, ou 3 mil pessoas. Em decorrência das vítimas de um acidente entre um ônibus e uma carreta, que “teria invadido a pista contrária provocando o choque”.
Cerca de onze pessoas vieram a falecer, em sua maioria jovens entre 15 e 17 anos.
Nada a fazer a não ser lamentar, e muito, um trágico acidente dessa natureza. Comoção que se amplia diante do fato de os estudantes terem sido enterrados com seus uniformes escolares. Coisas que teremos muito ainda que lamentar enquanto o modelo rodoviário for o preponderante na mobilidade urbana ou interurbana.
Enquanto isso, recebemos como notícia mais uma “pérola”: as multas de trânsito serão elevadas em 900%! O que pode não ter nada a ver. Mas não nos admiraríamos se esse acidente tivesse sido a gota d’água.
Face a um procedimento dessa natureza de nossas autoridades, a tendência imediata é o aumento da corrupção e do suborno em nossas estradas e vias públicas. Pois nossos policiais, políticos e governantes estão tão despreparados quanto nossos motoristas. Quando o indivíduo comparecer diante de um guarda de trânsito ou policial rodoviário para ser punido, ele vai pensar (ou talvez nem pense) se não é melhor desembolsar R$ 80 ou R$ 100 reais ali na hora ou ter que receber no conforto de sua residência uma multa no valor de R$ 900,00.
É do mesmo modo lamentável que os homens que conseguem aprovar essa estapafúrdia medida não entendam que os acidentes ocorrem pela falta de educação dos motoristas. Educação que poderia vir do primário. E também pelo número excessivo de veículos em nossas estradas. Nada se fazendo para que eles sejam em boa parte retirados das vias públicas. O que se conseguiria com a priorização do transporte sobre trilhos ou aquaviário, em regiões onde esse último fosse pertinente.
No caso específico do transporte ferroviário, onde as vias são efetivamente expressas, os acidentes também podem ser inevitáveis. Como ocorrem no Japão, EUA, Canadá, Europa – nos chamados centros de Primeiro Mundo. E aí? A quem caberia a multa? Aos usuários também?
Rio, 31/10/2014