Prolixidade ou timidez: o que é pior?

   Certa vez, não me lembro exatamente quando, alguém disse que eu sou uma pessoa prolixa. Palavrinha estranha essa! - pensei. Eu não sabia se a pessoa estava me fazendo um elogio ou se, ao contrário, me criticando. É óbvio que fui ao dicionário porque, eu confesso, não sabia o significado desta palavra: Prolixo - difuso; muito longo; palavroso; demorado; enfadonho. Cheguei à conclusão de que, ao me chamar assim, a pessoa encontrou uma forma elegante de me dizer o seguinte: “Dá um tempo. Você fala demais!”
   Há pessoas que se dizem de poucas palavras. Já eu, sou de muitas, muitas palavras. Penso que talvez eu pudesse falar menos e ouvir mais. É um defeito, reconheço, mas é algo quase incontrolável. Acho que essa necessidade de falar já nasceu comigo. Desde criança sou assim tagarela - ou prolixa, como disse a tal pessoa.
   É evidente que sou capaz de me calar e apenas ouvir quando a situação exige: ao assistir a uma palestra, a um discurso, a um filme no cinema. Também sou capaz de dar atenção quando alguém me procura para fazer um desabafo ou simplesmente para me contar uma novidade, enfim, aguardo o momento de “descarregar a metralhadora”, ou seja, a língua - embora não seja do meu feitio falar mal de ninguém. Eu tento não interromper quando falam comigo. Nem sempre consigo, é verdade, mas eu juro que tento.
   Dizem que ser muito falante é perigoso. Acho que pode ser mesmo porque quem fala muito acaba falando demais, literalmente: acaba revelando coisas que não devem ser reveladas. E falar sem pensar, sem refletir o que deve ou não ser dito, às vezes, pode causar constrangimento, má interpretação, gerar intrigas e muitas outras consequências desastrosas.
   Também dizem que a pessoa muito falante é indesejável e cansativa. Isso também é verdade. Quando estamos diante de um falante compulsivo, a primeira coisa que a gente pensa é: “Que sujeito chato!”. Não há nada pior do que ter de conviver com uma pessoa chata. É exatamente por isso que tenho me policiado muito ultimamente: não quero me tornar uma pessoa indesejável, chata e cansativa (será que já sou e nem me dei conta?).
   Apesar de eu ter essa consciência de que preciso de controle, é muito difícil não falar. Chega a ser doloroso em certos momentos. Talvez seja tão doloroso quanto o é para uma pessoa tímida, que quer falar e não consegue, que se sente bloqueada, envergonhada, com medo de não ser ouvida, de não ser entendida, de não concordarem com suas ideias. Conheço pessoas assim e sei o quanto elas sofrem. As pessoas tímidas são inseguras, são tomadas por sentimentos de rejeição, de não aceitação. Essas pessoas, de um modo geral, sentem-se inadequadas, fora do contexto, deslocadas dentro dos grupos aos quais pertencem: o da escola, o do ambiente de trabalho, e até o da família e de amigos. Portanto, a timidez pode ser um grande obstáculo na vida de uma pessoa, tanto na profissional quanto nas relações afetivas. Quando o assunto é relação amorosa as coisas são mais complicadas ainda: alguém pode perder o grande amor da sua vida por não ter coragem de se declarar.
   O que fazemos então com esse excesso (prolixidade) ou com essa falta (timidez) de palavras? Acredito que, no meu caso, a solução já foi encontrada: escrever. Quando sou acometida de uma enorme necessidade de falar, procuro uma caneta, um caderno ou me sento diante do notebook e escrevo. Isso me alivia, me acalma, me relaxa. Extravaso minhas emoções escrevendo, coloco tudo pra fora: angústias, dúvidas, questionamentos, mágoas, decepções. Também escrevo sobre coisas boas: minhas conquistas, alegrias, experiências positivas. Muitas coisas que escrevo não chegam ao público porque foram escritas apenas para desabafar, para aliviar o peso de certos momentos, ou, para apenas exercitar o cérebro. 
 Quando escrevo, ainda que esteja sozinha sinto-me acompanhada, pois sempre imagino um interlocutor. A vantagem é que posso falar o quanto quiser porque não serei interrompida, nem repreendida e nem chamada de prolixa.
   Talvez esta seja uma boa solução também para os tímidos: já que é tão difícil se comunicar com as pessoas através da verbalização, por que não tentar a escrita? Pode ser que não se livrem da timidez, mas com certeza descobrirão uma maneira muito prazerosa de dialogar com o mundo, mas, principalmente, com seu interlocutor imaginário. E uma dose de imaginação nunca fez mal a ninguém.
      
 
Jorgenete Pereira Coelho
Enviado por Jorgenete Pereira Coelho em 30/10/2014
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