Formigável?

Já pensou nisso? Vivi esse sonho. E se a ele sobrevivi, foi por falta de asas. Ou azar de não as ter. Mas as térmitas, que vivem em colônias de dezenas de milhares de indivíduos, e se assemelham muito às formigas, vivem isso no real.

Chegam as primeiras chuvas na savana africana, e é aquele turbilhão de formigas aladas saindo de buracos da terra e ganhando os ares. Não chegam a ser vôos graciosos e muito menos acrobáticos, mas voam, ganham os ares e, guiadas pelos tais ferormônios, uns sacros demônios vão loucas à procura de parceiros. E uma vez identificado o par, ao invés de mais voar, dar imaginação às asas, e manter os corações em brasas, o destino é logo o chão, a superfície mais segura, até que o casalzinho, possa achar um buraquinho... e nele bem rápido penetrar, para a união consumar.

Mas nesse processo, que é bem rápido, tão logo pousam, perdem as asas. Como se fossem esses voadores de asa delta, sem porém fazerem piruetas celestes pra impressionar as donzeletes. E também diferentemente dos asa-delteiros, as térmitas não têm muito como se

manter nos ares nem como prolongar o namoro, pois o que assim como sua aparição é um efemero espetáculo, predadores de toda ordem querem se servir do lauto banquete, ainda que, em forma de diminutos canapés, esses insetos lhes proporcionam, via de regra, após um jejum brabo, ocasionado pela seca prolongada que antecede as chuvas.

E os que têm sorte - e consorte - voltam pra debaixo da terra certos de que no ano que vem terá mais. Com asa e tudo.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 30/10/2014
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