Há beleza em nossos retratos.

Talvez eu pudesse escolher uma hora melhor para escrever, mas é em demasiada euforia que nos encontramos genuinamente solitários. Como em um segundo no ar, estático, em que a gravidade pára e nos vem a consciência de que naquele exato momento estamos a sós com nós mesmos, apesar de todos estarem ao redor, fazendo barulho. Um silêncio absoluto nos chega ao peito, subitamente, levemente.

Por fim, tudo vem, como um fluido que passa por nossas veias, rápido e dominador. Você me vem a mente e de repente me vejo ao seu lado.

Eu indo para casa conversando com você, colocando, mais que exaustivamente, tudo em pratos limpos. Suas mágoas, minhas desavenças. Seus questionamentos, minhas indignações. Chegamos em casa. Tomamos banho em silêncio, escutando minhas músicas que você não gosta, por serem repetitivas e deprimentes. Arrumamos minha pequena cama de solteiro, me trazendo uma certa ansiedade. Entrego uma roupa minha, que é frouxa em você, para enfim dormirmos. Fico deitada, esperando você já chegar pronta para deitar. Fico olhando para a fresta da porta, que dá fuga a um fio de luz. Depois da ansiedade me vem uma apreensão, porque você demora. No meu tempo de mundo, você demora duas eternidades e três dias. Cadê você?

Você vem, se encaixa em mim perfeitamente. Deita de costas para mim, alinha seu pescoço no meu nariz e boca e reconheço que o paraíso é ali e agora, já não há necessidade de morrer para chegar até lá.

Eu estou coberta em meu lençol, o ar condicionado é meu inimigo, o frio predomina. Mesmo minhas pernas coladas nas suas, uma mão em volta do seu pescoço e outra contornando seu seio, o frio persiste. Me vem um medo de dormir e você ir embora, tenho que ficar acordando de 5 em 5 minutos, para me certificar que você ainda está ali. Vigiando, vigiando. Começo a ficar nervosa, porque o frio persiste. Como há de persistir?

Ponho o edredom e a frieza ameniza. Mas de repente me veio um calor agonizador que tomava meu fôlego. Me vejo soluçando ao dar-me conta de que você nunca esteve ali. (...)

O vazio aumenta a gravidade do meu quarto e vejo vários holofotes com seu tome, tomando várias cores, até a sonolência do excesso de choro me arrebatar.

Às 04:00 a.m, é hora do parabéns. O silêncio que tomava conta dos meus ouvidos cessou e a realidade disparou em um estalo. Um ciclo chegara ao fim.

"É só você que me provoca essa saudade vazia

Tentando pintar essas flores com o nome

De 'amor-perfeito'

E 'não-te-esqueças-de-mim' "

Ak
Enviado por Ak em 29/10/2014
Reeditado em 16/02/2015
Código do texto: T5016377
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