O dia em que dispensei a última coca-cola do deserto
Quando decidi viajar para a praia naquelas férias, tudo o que eu mais queria era passar alguns dias descansando, lendo, tomando água de coco, caminhando ou correndo pela praia, mergulhando no mar e me preocupando, tão somente em manter a marquinha do biquíni no lugar.
Na verdade, tudo isso aconteceu.
Nos poucos dias em que não choveu li os livros que havia colocado na mala, enquanto sentia o sol aquecendo meu corpo e bronzeando minha pele.
Entre um retoque e outro do filtro solar olhei para o mar, observei crianças brincando, casais conversando, irmãs caminhando, adolescentes fazendo selfies e fotógrafos posicionando seus tripés e escolhendo, com o zoom de suas máquinas, qual era a melhor cena para fotografar. Talvez eu mesma seja uma das pessoas capturadas, pois estava tão distraída com minha leitura que, quando dei por mim um dos fotógrafos, ao meu lado, já estava virando e fotografando outras pessoas ou o mar.
Em um daqueles dias, após almoçar no Restaurante Portinha com os donos do hotel em que estava hospedada, fui para uma das barracas na praia que eram mais silenciosas, onde pude tomar um drink e ler meu livro. Embora a cidade tivesse um bom movimento de turistas, observei que, como não estávamos em alta estação, algumas barracas começam a recolher suas cadeiras e esteiras mais cedo. Talvez porque, como o sol vai caindo por trás dos coqueiros, as pessoas começam a se retirar, restando apenas aqueles que deixam as crianças brincarem um pouco mais, enquanto bebem suas cervejas e conversam alegremente.
Li durante um bom tempo, depois resolvi caminhar um pouco até encontrar um lugar para sentar e olhar do mar. Fiquei ali durante um bom tempo, observando as ondas, as pessoas andando e minha própria sombra. De tudo, o melhor foi perceber que com tempo livre pra pensar em qualquer coisa, o melhor era não precisar pensar em nada.
No dia seguinte, após minha caminhada pela praia sentei em uma barraca e fiquei, durante horas alternando entre ler, olhar o mar e refletir sobre nós dois. Meus planos e desejos continuavam os melhores, com direito a muitos sorrisos e trilha sonora, entretanto de você só havia ausência e silêncio... Olhei para o mar e para o céu fechado de chuva. A linha do horizonte fica mais perto quando chove e parece que se caminharmos até ela, logo chegaremos lá. E nós dois, aonde chegará a nossa história? Olhei para sua foto no celular e procurei, no seu olhar, a resposta para o seu silêncio. Talvez você se achasse a última coca-cola do deserto. E eu, com sede de vida, apenas olhei para a garrafa e parti.