Reminiscências na Insônia

Devo dizer que a insônia me acomete desde muito tempo. Tempo esse que ás vezes encasqueto coisas que não me servem, ou que, ainda registram na minha memória de um meio-elefante, porque se inteiro, pifa o meu HD interno.

Lembrei do meu pai que era um tremendo pé-de-valsa. E a sua discoteca era incrível e por isso me chamava atenção pelo seu refinado gosto, que, aos poucos, caiu-me feito uma luva.

E lá iam os senhores vinis enfileirados, com as suas capas brilhosas e com mulheres lindíssimas dentro daqueles vestidos-tubinhos e com luvas em clássicas poses, enfeitando a contra-capa dos bolachões empertigados. E logo depois retirados da embalagem, os nobres encaixavam-se no "ferrinho" da vitrola e submetiam-se à doce tortura da agulha que raspavam-no sem dó nem piedade. E daí extraía-se o divino som, claro, como não podia deixar de ser: Um Frank Sinatra, um Glenn Miller e o queridíssimo por mim, Ray Connif, com Downtown.

E o meu pai me chamava para a dança. Primeiro eu me equilibrava nos seus pés - juro que essa era a parte mais aprazível - eu era conduzida como se estivesse pisando na barriga de uma fofa nuvem. E ele me guiava como ninguém ao som de Downtown.

E ali eu sonhava com os filmes da Sessão da Tarde e me sentia a protagonista de Fred Astaire, - imagine só, que ousadia!

E aos poucos eu ia me soltando e gingando com as minhas mãos nas dele que nos conduziam àquela dança cheia de meneios.

Mais tarde, fui apresentada ao Holiday On Ice, um espetáculo maravilhoso que acontecia todos os anos com os clássicos de Conniff e com os artistas que nos encantavam com as cores, as luzes brilhantes em todas as nuances no palco.

Ainda agora, destrinchando esse meu lado insone, é que percebo as manifestações reminiscentes do meu cérebro enfeitado. E acho que é bem melhor do que encasquetá-lo com coisas que tentam me ferir.

E ao longe ainda escuto o Ray Conniff, os nossos passos, meu e do meu pai, como num sapateado clássico.