O AMOR VIRTUAL SEMPRE EXISTIU: NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI
O AMOR VIRTUAL SEMPRE EXISTIU: NUNCA TE VI, SEMPRE TE AMEI
(Ivone Carvalho)
Muita gente acredita que o amor virtual é um sentimento novo, surgido após o advento da internet.
Com efeito, a presença do mundo inteiro em nossa tela, a aproximação das pessoas, que podem ser desde os nossos vizinhos e até aquelas que residem a milhares e milhares de quilômetros distantes de nós, com as quais podemos manter conversação simultânea através dos muitos meios que a internet nos oferece, a um custo muito inferior ao de ligações telefônicas, veio mudar a vida de milhões de pessoas.
Através desse veículo, temos a possibilidade de trocar mensagens escritas, trocar correspondência, falar de viva voz, ver a pessoa com quem falamos através das câmeras que, por um preço acessível, pode ser instalada em nosso computador.
A internet, é claro, permitiu mais que isso, como a realização de negócios de compra, venda, prestação de serviços, operações bancárias, todos os meios de comunicação escrita e falada, eliminando assim, o tempo perdido em filas, trânsito, deslocamentos, trazendo economia com a eliminação de tantas assinaturas de jornais, revistas, periódicos, boletins, etc., aquisição de livros de todos os tipos. Enfim, é praticamente impossível enumerar todos os benefícios que a internet trouxe a todas as pessoas, sejam profissionais, estudantes, ou não.
Mas, quero aqui me ater ao relacionamento entre as pessoas. Duas ou mais pessoas, porém, quero falar essencialmente sobre a aproximação de um casal.
Consigno, aqui, que sou testemunha de famílias que nasceram ou estão nascendo, cujas sementes foram plantadas através da internet.
Quero, entretanto, ressaltar o amor virtual que sempre existiu. O que nasce através da internet todos nós vemos a todo momento. Porém, quero refletir sobre o amor virtual dos nossos antepassados.
Por exemplo? Das mulheres prometidas a homens desde o nascimento, quero dizer, das meninas prometidas a meninos, e que só se conheciam na hora do casamento.
Dos príncipes e princesas que aguardavam anos a fio até que chegasse o momento da união de dois reinos. Quantas dessas moças terão sonhado com seus príncipes até o dia de conhecê-los?
E as cartas? Quantas epístolas já foram escritas, falando de paixão, amor, sonhos, para alguém que jamais tinha sido visto e, até a descoberta da fotografia, nem mesmo a imagem podia ser vislumbrada nos sonhos desses apaixonados?
“Nunca te vi, sempre te amei”, um filme que arrancou lágrimas de tanta gente, principalmente minhas! Não era virtual esse amor?
Talvez hoje a virtualidade seja um pouco mais fria do que a que existia durante a troca de correspondência manuscrita.
Hoje, vemos diante de nós uma tela fria, alguns vêem uma câmera através da qual fica a impressão de estarmos olhando a tela do televisor. Podemos ver fotos, mas, podemos até ler a alma da outra pessoa, quando a sinceridade predomina.
E, quando isso ocorre, a nossa capacidade de sentir é tão grande que fica, em determinados casos, a impressão de estarmos sentindo a pessoa ao nosso lado, de sentirmos seu carinho, vermos seus sorrisos e, por que não?, até suas mãos nos afagando, seus lábios nos beijando, seus corpos nos amando.
Mas, acredito que para que isso aconteça é preciso que exista uma identidade imensa entre ambos e um sentimento de amor verdadeiro, que saiu do virtual onde apenas as fantasias prevaleciam e vieram para o real, onde o parceiro já passou a fazer parte da nossa vida real, estando sempre presente em nossos pensamentos, nossos sonhos, nosso coração. E, não tenho dúvida, isso tudo pode acontecer independentemente do contato físico, do conhecer pessoalmente.
Na época em que se trocava cartas manuscritas, existia, pelo menos, a possibilidade de materializar alguma coisa do ser amado, podendo-se, até, medir a sua emoção, sua alegria, sua tristeza, seu medo, através da sua letra. Lágrimas dificilmente seriam escondidas, pois, inevitavelmente, molhavam os papéis que recebiam as mensagens de amor. Algumas cartas recebiam gotas de perfume, levando ao ser amado o cheiro preferido do seu amor. Outras, recebiam beijos apostos pelos próprios lábios cobertos do batom da mulher apaixonada.
A tecnologia não faz mais sofrer o coração de quem ama, aguardando dias ou até meses para a chegada de uma nova carta que, muitas vezes, foi transportada pelo trem, pelo navio, pelo ônibus, pelo avião ou pela carroça.
Hoje, o coração acelera mais, quando o amor virtual passa a ser amor de verdade, amor real, porque já não conseguimos agüentar algumas horas sem o recebimento de um e-mail, de uma mensagem através de outros programas de conversação, ou, até, de um texto ou uma poesia publicada em algum site.
Amar verdadeiramente o ser que conhecemos virtualmente faz crescer, dentro da gente, a ansiedade por novas letras, novas palavras, novos atos que demonstrem a correspondência do amor que sentimos.
E, quando existe a certeza de que a pessoa que a gente ama também ama a gente, essa ansiedade existe sim, mas com o nome de saudade, porque ela vem cheia de paz, porque o coração transborda paz, luz e amor. É uma saudade que machuca muito porque, na verdade, ela está somada à vontade de estar junto, de sentir o cheiro, o toque, o calor, de detalhes que até aparecem e são sentidos nas frias letras do monitor, quando esse amor é imenso e existe dentro de nós, no mais íntimo da nossa alma, com a grandiosidade do amor verdadeiro, do amor puro, do amor sublime.
“Nunca te vi, sempre te amei”.
29/04/2004 – 1:00h