Deixa passar...
Não sou de deixar passar as coisas como se não tivessem acontecido. Não me refiro a perdoar, graças a Deus tenho essa capacidade, pelo menos até agora. Até para isso é melhor que passem as ebulições, as paixões que quase sempre reduzem a capacidade de enxergar com clareza e induzem às injustiças como as tantas que estamos vendo acontecer e, por que não dizer, sofrendo-as.
– Nunca vi chover tanto nessa época do ano! ...E a pessoa esquece-se de 87, 88, 93, 2002, 2007, 2009... Memória curta!
- Só gosto desse produto eletrônico da marca tal! ...E jamais tentou outra de mesmo padrão... Fidelidades sem justificativa plausível.
- Fiquei absolutamente decepcionado! ...Não cogita ser o mundo real diferente do que construiu em sua mente.
Ao mesmo tempo, admira a letra “Metamorfose ambulante” do Raul, desde que essa liberdade de pensamento não interfira em suas crenças ou ponha à prova sua flexibilidade diante do inexorável. Agora, por exemplo, devo estar testando a capacidade de quem me lê em descobrir se eu estou dizendo coisa com coisa. Acho que estou mesmo enchendo linguiça para evitar tocar em política, em escolhas, em razões dessas, em erros e acertos, em ponderações e condenações. Para citar outra bela letra: “a raça humana é uma semana do trabalho de Deus”. “...é uma beleza, uma podridão...” Essa do Gil. ...E não há Hitler’s suficientes para dar exemplos que não devem ser seguidos... E não há apartheids que bastem... E não há revoluções proletárias que tenham demonstrado o seu significado. Tudo passa a ser paixão, decepção, desconfiança, interesses contrariados, lobby’s, bancadas, manadas em fúria. É uma salada de legume com fruta interpretada pela língua ferida e ferina como se tais gêneros servissem ao mesmo propósito culinário. O tempo cura quase todas as paixões, mas quando isso não acontece é a morte por asfixia dos sentimentos perenes, comedidos, centrados, civilizados à sombra tenebrosa que impede a fotossíntese das ideias sob a luz da democracia.