NÃO QUERO FLORES NEM VELAS...

NÃO QUERO FLORES NEM VELAS...

"Homenagens (como esta) devem ser feitas

enquanto estamos vivos... depois de morto,

de que me adiantam flores e elogios ?"

ALONSO ROCHA ( em julho/agosto de

2004, no pátio interno da Câmara Municipal

de Belém, em evento cultural da FUMBEL.)

"Eu sou assim, / quem quiser gostar de mim /

eu sou assim.... / meu Mundo é hoje, / não

existe amanhã pra mim"!

WILSON BATISTA (trecho de canção)

Creio sinceramente que a maior falha do mandato do ex-petista Edmilson Rodrigues -- prefeito por 2 períodos, na capital do Pará -- foi o evento que premiou (e selecionou) mais de 50 escritores e poetas da antiga "Feliz Lusitânea" em concurso de "Poesia nos ônibus" e num outro, salvo engano de contos. Cada selecionado receberia 30 livros e os 3 premiados em cada categoria um pouco mais, além de algum dinheiro, se não me falha a memória senil.

A então vereadora (na época no PT) Marinor Brito foi responsável por todo o projeto, sendo secretário de Cultura um certo "Antônio de tal", músico local cujo apelido não consigo recordar. Como não foi reeleito, o "prefeito-criança" deixou o cargo e os escritores "a ver navios", sem que seu sucessor -- como é de praxe no Pará -- cumprisse os programas e projetos abandonados pela metade por seu antecessor.

Edmilson teria realizado também um festival de música, com gravação de 1 CD para os vencedores, 3 ou 4 artistas de renome. Outro engôdo, outra promessa vã que -- me parece -- o novo prefeito Duciomar Costa "reprisaria", também sem cumprí-la. Sorriso "de hiena de desenho animado" no rosto, Edmilson largou o PT e esta Belém de calor e chuva diários e partiu para a São Paulo de frio e garoa, onde ficou por vários anos.

Agora em 2014 volta para ser reeleito deputado... fico a pensar como ENCARA os poetas e músicos que enganou, que iludiu, que decepcionou com seu menosprezo. Certamente verba tinha, Belém nunca foi tão pobre assim! Resta saber o que faz governantes agirem dessa forma.

Classificado nas 2 categorias, eu receberia 60 livros... não vi a sombra de nenhum! Procurei órgão estatal de "defesa" do consumidor para uma Ação indenizatória. A funcionária me desestimulou: que eu tentasse reunir vários outros mais, um processo individual não valia o esforço do Órgão, era muito trabalho! Desse episódio triste para a Cultura paraoara ficou em mim a doce lembrança da homenagem "torta" ao Príncipe dos Poetas ALONSO ROCHA, afinal o concurso de poemas levava o seu nome. Como os livros NÃO FORAM EDITADOS, a honraria "virou fumaça".

Conheci Alonso Rocha em meus primeiros dias em Belém, em meados de 1987, apresentado pelo poeta e professor José Ildone, creio que na época à frente da polêmica APE -Assoc. Paraense de Escritores, na qual me registrei em 1988, acumulando desafetos sem levar vantagens em nada. Das reuniões oficiais no TWH para as "reuniões" informais noturnas nas praças de Belém foi "um pulo". Adiante, "me enturmei" entre os trovadores, graças ao poeta Juraci Siqueira e, como caminho natural, fiz parte (até 2005 ou 2006) das reuniões de trovadores no último sábado de cada mês, na casa do Alonso Rocha.

Elegante de gestos e de figura, Alonso era um "gentleman" completo, de porte altivo sem o menor traço de arrogância, jamais levantava a voz. Embora estivesse aposentado das lides bancárias quando o conheci, curiosamente me recordo dele me atendendo numa Financeira da rua Manoel Barata. Mas era dentro da Academia, da APL, do chamado Silogeu, que me recebia melhor. Vivendo quase que o dia inteiro entre os livros e poltronas, Alonso foi uma espécie de "factotum", de tudo cuidava, a todos atendia, os problemas resolvia, soluções providenciava. Se houver fantasmas no vetusto prédio, Alonso faz juz ao verso magistral de Augusto dos Anjos... "a minha sombra há de ficar aqui!" Eu me contento somente em ter minhas cinzas naqueles jardins... ou na Praça da República, outro lugar onde sempre senti a presença da volátil Felicidade.

Alonso se foi no Carnaval de 2011... e eu só fiquei sabendo meses depois. Penso que a tal "eternidade" é exatamente essa LEMBRANÇA que alimentamos (e repassamos) das pessoas que marcaram nossa vida, nos impressionaram, incentivaram, nos receberam com carinho, nos ENSINARAM com seu comportamento e exemplo. Alonso Rocha segue ETERNO em meu coração!

É até ousadia de minha parte "rabiscar" um soneto para um Poeta do porte de Alonso, mas o faço como ALUNO... de suas declamações magníficas, de sua Trova imorredoura, de sua "finesse" sem igual, hospitalidade que me sensibilizava e fazia feliz. "AVE, POETA... que a tua Luz perene ilumine nossos caminhos"!

"NATO" AZEVEDO (escritor e compositor) -- 27/out. 2014

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A ROCHA DA POESIA

Percorrendo, feliz, da Vida os caminhos

co'a luz das palavras, dos versos, forte

venceu altivo a tenebrosa Morte...

flores semeando, entre pedras e espinhos !

Junto a muito poucos, tive eu a sorte

de receber dele atenção, carinho(s).

Em Belém mil vates estão sozinhos...

Alonso foi pra tantos guia e norte !

Qual Pedro, êle foi "Rocha da Poesia"...

nos deu a todos somente alegria,

realizando sonhos, ideais, metas.

Quando sentarmos à celestial mesa

hei de brindar ao "Rei da Gentileza"...

que foi também "PRÍNCIPE DOS POETAS"!

"NATO" AZEVEDO -- (28/10/2014)

(Homenagem ao poeta e trovador paraense

ALONSO ROCHA, falecido em Belém em 2011)