E o que será de nós?

O resultado está aí. Ponto. Não me compete, pelo menos neste momento, discutir urnas, votos, opiniões, inteligências, escolhas, ou qualquer possível explicação do que deu certo ou errado.
Apenas constato. Constato que o PT venceu em Minas e no Rio. E no Brasil.

Mas o que faço agora é observar, com um pouco da capacidade de extrapolar o que vejo pelos próximos quatro anos. Mas não consigo observar, sem pontuar minhas observações com o passado, seja ele qual for.

E o que vejo?

Vejo fanatismo. Vejo este fanatismo ao longo do tempo passado. Este fanatismo era calcado em ser diferente e ser melhor, sem precisar agir. Era baseado em ser inteligente, achar que era necessário algo diferente e ter noção do que estava errado. Afinal, um bom grupo de fundadores do PT era formado de intelectuais “normais”, pessoas de posses, empresários, e pessoas cansadas das soluções inoperantes. E eles tinham certeza que agiam em favor do pessoal oprimido, dos pobres, dos menos inteligentes, menos possuídos. Era uma linda solução dos ricos ajudando os pobres e pensando que eles se tornariam ricos e integrados neste grupo “mágico” de pensadores.

Nesta época, ser fanático pelo PT era uma forma linda de não precisar discutir, nem confrontar opiniões, ou medir resultados. Era como um ser que crê em Deus sendo questionado pela racionalidade de um ateu: simplesmente, não há diálogo, não há base de discussão. E, da mesma forma que em muitas regiões desse nosso mundo, ateus e crentes convivem, assim, conviviam PeTistas e as pessoas normais de então.

Mas essa equação é uma equação de oposição, de contrapor, de forçar o equilíbrio. É um contrapeso importante que pode tomar várias formas, incluindo a forma de uma força política a favor dos “menos”, sejam menos esclarecidos, menos protegidos, menos defendidos. Em algumas formas de governo, a Igreja tomaria essa posição, em outras, países “externos” assumiriam o papel, no Brasil de recentes anos, foi o PT.

E eis que surge uma força mais forte do que deveria. E ele queria ser presidente. E aos poucos passou por cima dos sonhadores que pouco realizavam e decidiu que era possível ser dono de todas as ações. E o resto do PT o acompanhou, porque não, afinal ser contra ele era ser contra si mesmo.

E insistiu, por várias vezes, sempre aprendendo e crescendo. Mas sua vitória acabou não sendo tanto por mérito mas mais por falta de um contendor à altura. E se tornou presidente.

Aprendeu a ser um estadista mas ao mesmo tempo aprendeu a ter duas personalidades e, infelizmente, nunca perdeu o fanatismo. Governou por quatro anos com uma esperteza saudável de pouco mudar mas de dar à mudança a visibilidade clara de uma revolução silenciosa. Para muitos era cru, ignorante e sem qualquer preparo, mas sempre conseguiu que seus contrários nunca se tornassem fanáticos e obstinados como ele, trazendo a maioria para perto dele. E se reelegeu, agora sim pelo mérito de saber que uma democracia se faz por votos baseados em opiniões imediatistas e não por visão futurista; foi reeleito pela sua personalidade populista e não pelo seu lado estadista. E sabia também que a país tinha fôlego para sustentar suas ideias por quatro ou até oito anos.

Mas o fanatismo precisou novamente aflorar. E decidiu apostar em doze anos através de sua eleita (seu lado estadista aparece novamente conseguindo criar uma sucessora, coisa que seu antecessor não havia conseguido). E, através de sua força e da fraqueza dos oponentes, mais uma vez se elege, desta vez através de sua cria política.

E a magia aos poucos se desfaz. O fôlego inerente do país não aguenta doze anos de sangria. Como todo pajé sabe, a sangria pode ser uma forma de cura, mas ela requer um tempo de recuperação. E isto, ele não enxergou, talvez cego pelo fanatismo, agora, do poder e não mais das ideias.

E, depois de doze anos, mais uma eleição pela frente. Ele até tentou se conter, deixar ver o que acontecia, quiçá (sonho meu) entendendo que alternância seria benéfica a todos, inclusive a ele próprio, que poderia voltar ao poder como contraponto ao invés de continuidade cansativa.

Mas o fanatismo fez com que ele e seu partido (que há anos não pertence mais a quem o fundou) voltassem à carga plena para não perder mais essa chance de estar no poder. E todas as armas foram usadas, o fanatismo global de seus asseclas teve que ser alimentado e revivido e a vitória foi conquistada, sem ainda entender a que custo.

E aí constato: o fanatismo está novamente vivo, alimentado pela difícil vitória. E ele sabe que este fanatismo não é forma de governo, é apenas forma de vencer eleições. Mas saberão ele e sua cria controlar esta horda de fanáticos que, por definição, são cegos, insensíveis e sem qualquer possibilidade de bom senso?

Saberão, ele e a cria, amainar os ânimos de suas hordas que tiveram que ser despertas de seu torpor para garantir a vitória, para agora garantirem a paz e a prosperidade deste país?
Afinal, precisamos de equilíbrio, de inteligência, de bom senso e de sensatez, e nada disso condiz com fanatismo.

O que será de nós, me pergunto.