Quem ri por ultimo... Ri melhor
No trem quase lotado identifiquei a presença de um colega da faculdade, embora algumas vezes nossos caminhos se cruzassem no campus, jamais nos cumprimentamos, éramos assim colegas anônimos. Quando o trem parou na primeira estação, adentrou uma mulher com aparência de estar grávida, os bancos destinados aos idosos estavam ocupados, meu colega anônimo prontamente se levantou cedendo seu lugar, estampando no rosto o sincero desejo de ajudar, aquela cena me pareceu muito cômica, pois já o vinha observando, e algumas vezes o vi no meio dos brutamontes, se posicionando na frente das portas, dificultando as pessoas saírem, agindo com selvageria, empurrando, atropelando quem estivesse pela frente, tudo para alcançar um lugar vazio na composição.
Certa vez, uma mulher ao sair, quase foi atropelada, esbravejou: _ “Vocês são um bando de animais deveriam estar num curral, não em meio de gente” - Ninguém deu a mínima atenção ao que ela dizia.
Somente um Senhor que a meu lado aguardava o fim do tumulto para entrar no trem comentou: - “Isto acontece todo dia, Nosso povo é muito carente de educação em todos os sentidos” –
Agora vendo meu colega anônimo agir com educação, finesa e respeito, comecei a rir, esta cena, contrastava totalmente com as imagens de antes. Enquanto ria compreendi o alcance das palavras de um dos nossos professores quando dizia que suas aulas eram como um salão de beleza para os estudantes de Engenharia.
Compreendi o grande esforço que nossos Mestres(as) fazem, ao procurar junto com as aulas acadêmicas, passar ensinamentos de cidadania, é notória a preocupação deles de formar além de bons profissionais, bons cidadãos. Atendendo a máxima “A quem é dado um ensinamento superior, se espera atitudes também superiores”.
As aulas de cidadania são excelentes, pois atendem a necessidade do mercado atual.
O Engenheiro geralmente se torna um líder, e o mercado de trabalho necessita de líderes que tenham a capacidade de lidar bem com pessoas, que saibam extrair o melhor de seus subordinados. Devido a escassez de mão de obra especializada, empresas buscam profissionais que consigam aliar um bom conhecimento técnico com a capacidade de treinar equipes de trabalho, entendem que uma equipe bem treinada, motivada, com auto estima alta, produz muito mais, e melhor.
Os tradicionais chefes, arrogantes, estúpidos, iracundos, orgulhosos estão com os dias contados, o imbecil que acredita que um título acadêmico lhe dá o direito de humilhar e magoar subalternos, não cabe mais no mercado de trabalho.
O trem parou na estação do nosso destino, embalado pelos meus pensamentos estivera, rindo, falando sozinho, gesticulando, fazendo um papel ridículo.
As pessoas ao saírem do trem me olhavam como se eu fosse um palhaço, outras me lançaram olhares preocupados como se estivessem diante de um forte candidato ao hospício.
Meu colega anônimo ao passar por mim apressado, com um sorriso, pela primeira vez me cumprimentou deixando claro que estava me observando. Compreendi que sai da condição de ‘observador’ para ‘observado’.
Enquanto caminhava para o ponto do ônibus que me levaria para a faculdade, refleti:
“Ri ao ver uma melhora no comportamento de um colega da faculdade, na verdade sinto um contentamento por comprovar o efeito dos ensinamentos em alguém. Será que este colega anônimo que também vem me observando, riu de contentamento ao ver melhora em minhas atitudes?”
Dentro do ônibus, lembrei da frase do grande Benjamin Franklin
“Procura nos outros as qualidades que eles possam ter; em ti, procura os defeitos que certamente tens.”
Este grande homem aos 79 anos, quando lhe questionaram sobre o segredo de seu sucesso, explicou que quando jovem tinha um temperamento difícil e muitos maus hábitos, assim colocou em pratica a experiência ensinada por Pitágoras, que era a necessidade de examinar as próprias ações diariamente.
Usou a poderosa ferramenta da auto-observação. Inventor que era, criou o que ele chamou de “formula mágica” um pequeno livro onde fazia anotações sobre as virtudes a serem adquiridas e os defeitos que precisava superar, dia a dia.
Aprendeu por si a ler italiano, espanhol, francês e latim. Ele explica que senão tivesse usado esta formula mágica, não teria se tornado inventor, cientista, editor filósofo, escritor, diplomata, abolicionista e etc. e etc.
Quando desci do ônibus disse para mim mesmo:
“Quem pode melhor nos observar, somos nós mesmos”
Aí captei a mensagem do sorriso que meu colega anônimo me endereçou:
Quem ri por último...
Ri... melhor
Autor Mário Silva