Almoço de domingo
Um sol escaldante. Almoço de domingo e o aniversário do tio garotão. Bisavós, mães, sogros, tias, primas e cachorro vira-lata. Todos estavam reunidos numa mesa de doze lugares. Era o primeiro dia que Rodolfo visitava a casa da sua nova namorada Letícia.
- Eu já sabia que o Delúbio estava no meio disso tudo. - Esbravejou o tio gordo.
Nina começou a chorar. Três aninhos de idade e já está se matando para o quarto copo de refrigerante.
- Não Nina! Acabou! Chega! - Gritou a avó.
- Todos estão no meio daquela loucura. Até eu queria uma malinha daquela. Visto até a calçola da mamãe para colocar mais dinheiro. - Continuou o sogro.
Rodolfo era um rapaz bem tímido. Tinha bons modos e adorava se portar como um cavalheiro. Sabia conversar de tudo e tinha o dom de conquistar os mais idosos.
Mas naquele dia estava difícil falar alguma coisa. Só conseguia no máximo balançar a cabeça assentindo ou negando algo. Não havia uma brecha para dar alguma opinião. Mas sentia a falta de demonstrar ao sogro que era gente fina e um verdadeiro boa praça. Mas...
O tio gordo, um falador importuno, mudava de assunto de repente e nunca deixava Rodolfo dar um palpite. Aliás, ninguém!
- E a parada gay? Quanta gente!
Nesse assunto, Rodolfo opitou não comentar logo no primeiro dia que estava na casa do sogro. Achou que seria estranho e continuou comendo o bolo com uma camada de três centímetros de glacê.
- Tinha alguns com fantasias lindas. - Falou a avó.
- Cruz credo vó! Tinha só coisa brega. - Resmungou Letícia.
O tio obeso não perdendo o assunto continuou:
- Não querendo falar mal não, mas já falando. Vocês viram a cor da parede da casa do Augusto?
- A mulher dele sempre foi cafona. A cozinha dela tem mais quadros que a sala daqui de casa. – Acrescentou a esposa dele.
Era sua chance de invadir o assunto, o tio gordo estava deixando as outras pessoas opinarem. Não perdoou e falou alto:
- Brega? Brega mesmo é pingüim em cima da geladeira.
Falou tão alto que Nina, pedindo seu quinto copo de refrigerante parou de chorar. Todos se entreolharam. Rodolfo assustado olhou para Letícia. Letícia encarava a geladeira. Rodolfo com rabo de olho viu aquilo infestado com todo tipo de pingüim. Magro, gordo, velho, novo...
Olhou para a família e a família já estava olhando pra ele e sem perder a pose, continuou:
- Um pingüim sozinho é feio, mas com a família reunida assim... Fica lindo! Chique demais!