E AGORA DILMA?(ll)

Dilma reelegeu-se. Mais quatro anos para o projeto petista.

Confesso aqui: votei no Aécio. Não porque seja contra o projeto do PT, mas porque considero que o “Presidencialismo de Coalizão” esgotou-se, criando uma monstruosidade.

O capital eleitoral da presidente eleita lá atrás, há quatro anos, não foi suficiente para se transformar em proporcional capital político, adequado para possibilitar que o governo governasse, e não apenas reinasse , o que é aceitável num regime parlamentarista, mas inadequado a um regime presidencialista.

A conseqüência disto, no primeiro governo Dilma, foi que algumas áreas tiveram que ser mais blindadas que nos governos anteriores, excluídas da influência da coalizão, notoriamente a econômica. Isto, que parecia ser uma saudável proteção contra a ingerência política no Banco Central, Conselho de Política Monetária e Ministério da Fazenda, tornou praticamente este núcleo fora do controle social, e de certa forma, fora do controle Presidencial . Nossa Presidenta, com seu temperamento forte, e ciosa de sua representatividade, lutou com unhas e dentes para manter o “controle” da economia, posto que a eleita foi ela , e não a “tecno-burocracia” ou aliados pouco confiáveis. Para isto, teve que manter o Ministério da Fazenda sob seu inequívoco comando, tendo, de um lado, preservado grande parte de seu legítimo poder, mas de outro, se imiscuído excessivamente na área econômica, com os custos e equívocos conhecidos. A economia passou a ser comandada, na medida em que isto é possível, pela Presidenta. Uma Presidenta infensa a críticas. O que quer dizer: ela erra, a sociedade paga a conta, e não tem, ao seu alcance, meios para a necessária mudança de rumo. Isto gera imenso mal estar e descontentamento.

Quando, pessoalmente, me impressionei com a candidatura de Marina Silva, tinha em mente principalmente este fato; a “Nova Política” embutia uma promessa que a chamada “coalizão” seria substituída pela “Participação”, ainda que assegurando a área econômica para o Governo, mas com uma nova tática e novos pressupostos de negociação, de tal modo que à degenerada “coalizão” do dá cá , toma lá, fosse substituída pela aprovação das forças majoritariamente representadas, por um projeto comum, avalizado por toda a sociedade. Uma nova postura, uma etapa superior no exercício da política.

No novo governo Dilma, ela encontrará um quadro muito mais complexo e difícil para transformar a sua pequena margem de votos em capital político. Isto quer dizer, estará muito mais vulnerável ao Presidencialismo de Coalizão, ou seja, terá que preservar, com mais ferocidade ainda, a área econômica. O risco é que ao fazê-lo, caso não traga um Ministro que não seja uma figura que, de imediato, se imponha, que ela exerça ainda mais o comando da economia, o que poderá ter conseqüências desastrosas. Para que fique claro o que quero dizer: O Ministro Palloci , do Lula, se impôs de imediato. Por quê? Porque o Lula o deixou comandar a economia, e fez de sua atuação, a atuação de seu governo. O Presidente marca a sua posição em termos de governo, o Ministro é quem escolhe os meios. O Presidente ou avaliza ou demite o Ministro.

O desgaste do chamado Presidencialismo de Coalizão ainda é muito mais visível quando excluímos as regiões “blindadas” . Aí reina a terra dos interesses políticos dos membros da coalizão. O toma lá, dá cá , livrando-se de qualquer compromisso ético – que não é o forte do PT – levou a um desgaste do modelo, que se em dado momento funcionou, dá sinais claros de cansaço. Isto porque prevaleceu, nestes períodos mais recentes, uma moeda de troca política que não era mais o atendimento dos legítimos interesses locais, em troca de apoio em questões legislativas de interesse nacional, mas a imposição de interesses pessoais. Houve, na melhor das hipóteses, uma perda de compostura. Na mesma linha vão os interesses financeiros, como se verificou, de maneira vergonhosa, na Petrobrás.

Discordo profundamente dos métodos adotados na campanha. A “desconstrução”, neologismo na moda , que significa “demolição”, praticada pelos dois lados, e abusivamente utilizado contra Marina, que teve o mérito de não entrar neste jogo, trará necessariamente sequelas que terão que ser superadas com praticas objetivas de aproximação e concórdia por ambos os lados. A realidade do País vai se impor. Os acertos do governo Dilma que tano ajudaram na sua reeleição, sendo talvez o fator maior, terão que ser reconhecidos por seus opositores. Há que se reconhecer que a prioridade de manter o emprego ainda que ao custo de baixo crescimento é uma política que “mexe” com os economistas de carteirinha, mas que revela a “estadista”, mais, inclusive, que o Bolsa Família. Os investimentos feitos em infra-estrutura e na área energética trarão os seus frutos.

O que se espera da Presidenta – que Deus a ilumine em tão difícil e complexa conjuntura - é que, agora mais livre, experiente e madura, como ela mesma disse, faça, como prometeu, o “seu governo”. Sabemos que ninguém muda, somos quem somos, mas evolui , dentro do perfil de sua personalidade. Todo mundo sabe que a Presidenta é séria; o que ela precisa aprender a fazer é “tirar a meia sem tirar o sapato”, conduzir, com habilidade, e em patamar mais alto, as relações do governo com seus aliados e seus opositores. Às vezes o opositor está certo, há que ouvi-lo. Ninguém é o dono da verdade. E a nós cabe torcer para que a Presidenta consiga, com o apoio de seu partido e de sua coligação, que deverão entender que está na hora da concórdia e da auto crítica. Os processos que recairão na cabeça de muitos políticos trarão uma dor de cabeça adicional à Presidenta. Ela terá que aprender a governar com os melhores para o Brasil, e não com os não tão bons, mas respaldados por poder político. Talvez esta seja, no momento, a base para uma mudança possível. Porque dos votos válidos, pouco mais da metade dos votos assegurou-lhe a reeleição. Não dá para fingir que o outro lado não existe , principalmente se considerarmos que se encontra nas regiões de mais peso do País.

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