A bequinha

Na sala não tinha lugar para ela. Lá era o palco da chávenas, cheias de café passado na hora e servido às visitas. Tinha que se contentar com a copa e a cozinha, e sem brilho, servia humilde, a bequinha.

Feita de estanhado, com o cabinho longo, achatado e furado na pontinha, logo que lavada, era pendurada no escorredor, geralmente na fieira mais baixa, pois as mais altas eram reservadas aos esmaltados, aos copos de lata e alguma ou outra concha, nem de ouro, nem de prata.

A bequinha não tinha semelhante. Ser só, singular, era de sua natureza sem par. Gosto por ela tinha toda a meninada, mas sendo uma só, fazia-se de cobiçada - até a graça ser alcançada.

O bom dela, que açambarca do leite que ainda péla, ou da canjica que se acha melhor numa tigela, era ter aquele biquinho de um lado, pra nada entornar do lado errado. Pena é que o certo nunca anda mais perto.

Aloysia, flor inglesa, vem tomar um gole da aguinha desta bequinha

Brazilio, de prosa gentil.

Humor fino e contundente.

Texto rimado e sutil.

Pra mim e pra toda gente.

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 27/10/2014
Reeditado em 03/07/2016
Código do texto: T5013454
Classificação de conteúdo: seguro