A MORTE É UM DIA QUE VALE A PENA VIVER*
Ao ler esta frase acima, pronunciada por uma médica pós-graduada em Intervenções de Luto e especialista em Cuidados Paliativos, pelo Instituto Pallium e Universidade de Oxford, eu fiquei curioso e resolvi assistir a sua palestra, de 18 minutos (ver o link no final da página). E ela começa a sua palestra se apresentando como sendo aquela médica que está ali para cuidar de quem já não tem mais cura para o mal que traz e sente. A médica que, depois de todos os recursos empregados pela medicina, para salvar uma vida, recebe o paciente que está diagnosticado como terminal.
A palestra é toda desenvolvida dentro de uma metodologia em que o principal objetivo é valorizar o tempo de vida que ainda resta ao ser humano entregue a ela. É dar atenção àquele ser que sofre e motivá-lo a buscar, em suas origens, a essência de sua alma, pondo para fora o seu estado de amorosidade, generosidade, gratidão e conhecimento. Segundo a doutora, “para quem trabalha com o paliativo, não é a primeira impressão a que fica, mas a última”.
Ela fala ainda sobre o que representa a terminalidade de uma vida – para o paciente e para a família. E diz que “não sofre somente quem está com a doença, mas ele e toda a sua família”. E acrescenta algo que é bastante reflexivo, do ponto de vista psicológico: “as doenças se repetem entre as pessoas e são diferentes entre si, mas todas elas levam ao mesmo ponto: o sofrimento”.
A palestra é maravilhosa, pois a médica a conduz de uma forma que vai mostrando que todos nós iremos passar por isso um dia, inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde. Mas ela também vai mostrando que esse dia – que não sabemos quando – também pode ser “encarado” como um dia que vale a pena ser vivido, pois se ele é inevitável, então vale a pena começar a mudar a expressão de que a primeira impressão é a que fica, passando a viver uma vida mais em harmonia com a natureza – segundo ela, “independente da religião, ciência ou filosofia” e procurando, no universo que o rodeia, o sentido da comunhão de estar vivo – consigo e com o próximo.
E foi neste ponto que eu achei espetacular a sua palestra. Ela, embora amenize a passagem desta dimensão para uma outra, não deixa de expressar essa convicção de que um dia partiremos. E diz: “nesta vida nós só morremos uma vez. Não podemos dar vexame”. Compreendi aí o sentido da frase a “última impressão é a que fica”.
Acho que ela quis dizer (e foi o que entendi) que é na terminalidade – que, segundo ela, “independe do tempo de vida” – que temos a chance de nos redimirmos de nossos erros, de reatarmos laços, de nos organizarmos para a partida de uma forma que, ao sairmos daqui, deixemos saudades e um nome perpetuado para os que ficam ainda nesta dimensão.
Outra frase, dita por ela, também me chamou muito a atenção: “a morte não é bonita. Ela tem a beleza ímpar de uma tristeza, mas não é bonita. Bonita é a vida!”.
Fiquei imaginando essa beleza ímpar de tristeza e consegui enxergá-la, divinamente, pela ótica da abstração de quem tem o dom de encantar com as palavras – seja em prosa ou poesia. Nada se compara à morte quando ela é tratada com o devido respeito e transformada de algo subliminar (que está no subconsciente de todos nós) em uma condição real de passagem.
Noutro trecho, ela cita que, diferentemente do que dizem, o médico que cuida do paliativo (do latim pallium: capa ou manto que cobre os ombros. Originalmente, era exclusivo dos papas, sendo depois estendido aos metropolitas e primazes, como símbolo de jurisdição delegada a eles pelo pontífice) não é estressado porque ele aprende a dar valor à vida. Segundo ela, estressados são aqueles médicos que trabalham com pacientes que morrem. Esses são estressados porque não entendem o que eles estão fazendo ali.
Achei interessante esta colocação. E faz sentido. Realmente, o médico que cuida do paciente, que está ali para salvar vidas e que, de repente – mesmo ele tomando todos os cuidados procedimentais –, alguns deles vêm a falecer de uma parada cardíaca, de um colapso ou uma doença crônica, esse, de fato, jamais vai entender por que isso aconteceu, já que ele tomou todos os cuidados, fez todos os procedimentos e executou todos os passos clínicos e laboratoriais. Porém, o médico que entra pela porta do paciente que foi entregue depois que todos os recursos foram empregados e ele foi declarado terminal, esse médico sofre o menor dos estresses, pois ele não lida diretamente com a morte, mas, sim, com a vida em sua essência.
Vale a pena assistir ao vídeo e, também, escrever algo sobre. Eu escrevi.
http://www.50emais.com.br/saude/medica-a-morte-e-um-dia-que-vale-a-pena-viver
*Frase da médica Ana Cláudia Quintana Arantes – pós-graduada em Intervenções de Luto
A palestra é toda desenvolvida dentro de uma metodologia em que o principal objetivo é valorizar o tempo de vida que ainda resta ao ser humano entregue a ela. É dar atenção àquele ser que sofre e motivá-lo a buscar, em suas origens, a essência de sua alma, pondo para fora o seu estado de amorosidade, generosidade, gratidão e conhecimento. Segundo a doutora, “para quem trabalha com o paliativo, não é a primeira impressão a que fica, mas a última”.
Ela fala ainda sobre o que representa a terminalidade de uma vida – para o paciente e para a família. E diz que “não sofre somente quem está com a doença, mas ele e toda a sua família”. E acrescenta algo que é bastante reflexivo, do ponto de vista psicológico: “as doenças se repetem entre as pessoas e são diferentes entre si, mas todas elas levam ao mesmo ponto: o sofrimento”.
A palestra é maravilhosa, pois a médica a conduz de uma forma que vai mostrando que todos nós iremos passar por isso um dia, inexoravelmente, mais cedo ou mais tarde. Mas ela também vai mostrando que esse dia – que não sabemos quando – também pode ser “encarado” como um dia que vale a pena ser vivido, pois se ele é inevitável, então vale a pena começar a mudar a expressão de que a primeira impressão é a que fica, passando a viver uma vida mais em harmonia com a natureza – segundo ela, “independente da religião, ciência ou filosofia” e procurando, no universo que o rodeia, o sentido da comunhão de estar vivo – consigo e com o próximo.
E foi neste ponto que eu achei espetacular a sua palestra. Ela, embora amenize a passagem desta dimensão para uma outra, não deixa de expressar essa convicção de que um dia partiremos. E diz: “nesta vida nós só morremos uma vez. Não podemos dar vexame”. Compreendi aí o sentido da frase a “última impressão é a que fica”.
Acho que ela quis dizer (e foi o que entendi) que é na terminalidade – que, segundo ela, “independe do tempo de vida” – que temos a chance de nos redimirmos de nossos erros, de reatarmos laços, de nos organizarmos para a partida de uma forma que, ao sairmos daqui, deixemos saudades e um nome perpetuado para os que ficam ainda nesta dimensão.
Outra frase, dita por ela, também me chamou muito a atenção: “a morte não é bonita. Ela tem a beleza ímpar de uma tristeza, mas não é bonita. Bonita é a vida!”.
Fiquei imaginando essa beleza ímpar de tristeza e consegui enxergá-la, divinamente, pela ótica da abstração de quem tem o dom de encantar com as palavras – seja em prosa ou poesia. Nada se compara à morte quando ela é tratada com o devido respeito e transformada de algo subliminar (que está no subconsciente de todos nós) em uma condição real de passagem.
Noutro trecho, ela cita que, diferentemente do que dizem, o médico que cuida do paliativo (do latim pallium: capa ou manto que cobre os ombros. Originalmente, era exclusivo dos papas, sendo depois estendido aos metropolitas e primazes, como símbolo de jurisdição delegada a eles pelo pontífice) não é estressado porque ele aprende a dar valor à vida. Segundo ela, estressados são aqueles médicos que trabalham com pacientes que morrem. Esses são estressados porque não entendem o que eles estão fazendo ali.
Achei interessante esta colocação. E faz sentido. Realmente, o médico que cuida do paciente, que está ali para salvar vidas e que, de repente – mesmo ele tomando todos os cuidados procedimentais –, alguns deles vêm a falecer de uma parada cardíaca, de um colapso ou uma doença crônica, esse, de fato, jamais vai entender por que isso aconteceu, já que ele tomou todos os cuidados, fez todos os procedimentos e executou todos os passos clínicos e laboratoriais. Porém, o médico que entra pela porta do paciente que foi entregue depois que todos os recursos foram empregados e ele foi declarado terminal, esse médico sofre o menor dos estresses, pois ele não lida diretamente com a morte, mas, sim, com a vida em sua essência.
Vale a pena assistir ao vídeo e, também, escrever algo sobre. Eu escrevi.
http://www.50emais.com.br/saude/medica-a-morte-e-um-dia-que-vale-a-pena-viver
*Frase da médica Ana Cláudia Quintana Arantes – pós-graduada em Intervenções de Luto