O DIA EM QUE UM CIDADÃO TEM VALOR
Acordei cedinho pra cumprir com o meu direito de voto, se bem que esta eleição está mais para obrigação, uma vez que fui votar no menos ruim, pra evitar o pior...
Votar cedo é bom, de preferência chegar antes do estouro da boiada. Eu percebi que na longa fila que se formava no lado de fora do colégio a maior parte das pessoas tinha mais de 60 anos de idade, e, portanto, nem precisavam ali estar. Somente uma senhora não estava na turminha, pois passeava com seu cachorro, mas estava curiosa com a multidão, perguntando do que se tratava. Quando ela falou sua idade eu quase caí pra trás. Ela tinha 82 anos a aparentava ter 50.
Não sei qual foi a motivação, mas ela falou que voltaria pra casa, pegaria sua identidade e votaria. Perguntei se ela conhecia os candidatos. Ela me disse, indignada: “Claro que sei! São 15 e 10; 45 e 13!”. Ela me deu um banho de memória...
Antes de entrar na tal escolinha, vi no chão da rua centenas de santinhos do pastor. Era impossível não notar aquilo, mas os vigilantes não estavam interessados em retirar o lixo. Eles estavam muito atentos a um senhor que entrou e gritava o tempo todo que tinha direitos, batendo nas mesas. Provavelmente alguém com algum problema mental em surto, mas ninguém se preocupou com o acontecimento, uma vez que quem vota cedo quer chegar em primeiro lugar e não perder tempo.
Por conta disto, observei que senhores e senhoras com problemas de deambulação se sacrificavam para subir escadas. Não havia elevador ou rampa. Aquela escola pública de ensino fundamental não pode aceitar uma criança cadeirante ou com qualquer deficiência. Por isto, tanto faz como tanto fez receberem centenas de idosos querendo votar e se danando para isto.
Eu era a terceira pessoa a entrar na minha sessão. Eram 8h e 20 minutos. Pensei que em poucos minutos eu sairia daquele tormento, mas demorou pra burro até eu conseguir chegar nas mesárias. Constatei que eram três mulheres trabalhando. Uma procurava desesperadamente num caderno os nomes das duas votantes à minha frente. A demora foi justamente porque a mesária não sabia ordem alfabética! E isto é um problema crônico na nossa sociedade.
O sistema digital ainda não foi implantado em todos os lugares, até porque, pelo jeito, tem dado erros absurdos por aí. Se pelo menos tivéssemos mesários com algum quociente de inteligência a coisa andaria melhor. Imagino que a esta hora, duas horas após meu voto, lá naquela escola um caos está se formando e é por falha humana.
Já que eu tinha que esperar a imbecilidade humana, aproveitei para confirmar os números dos candidatos à presidência. Virei-me para um mocinho atrás de mim e pedi ajuda. Ele disse que não sabia, pois ia votar no macaco Tião. Olhei pra ele, arregalei os olhos, abri a boca e o informei:
- “O macaco Tião já morreu!”.
Ele, meio incomodado com a minha seriedade, perguntou:
- “Ih! E agora?!...”.
Dei as costas para ele e respondi, balbuciando entre os dentes:
- “O jeito é votar num dos outros dois...”.
Rio, 26 de outubro d 2014
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com
Acordei cedinho pra cumprir com o meu direito de voto, se bem que esta eleição está mais para obrigação, uma vez que fui votar no menos ruim, pra evitar o pior...
Votar cedo é bom, de preferência chegar antes do estouro da boiada. Eu percebi que na longa fila que se formava no lado de fora do colégio a maior parte das pessoas tinha mais de 60 anos de idade, e, portanto, nem precisavam ali estar. Somente uma senhora não estava na turminha, pois passeava com seu cachorro, mas estava curiosa com a multidão, perguntando do que se tratava. Quando ela falou sua idade eu quase caí pra trás. Ela tinha 82 anos a aparentava ter 50.
Não sei qual foi a motivação, mas ela falou que voltaria pra casa, pegaria sua identidade e votaria. Perguntei se ela conhecia os candidatos. Ela me disse, indignada: “Claro que sei! São 15 e 10; 45 e 13!”. Ela me deu um banho de memória...
Antes de entrar na tal escolinha, vi no chão da rua centenas de santinhos do pastor. Era impossível não notar aquilo, mas os vigilantes não estavam interessados em retirar o lixo. Eles estavam muito atentos a um senhor que entrou e gritava o tempo todo que tinha direitos, batendo nas mesas. Provavelmente alguém com algum problema mental em surto, mas ninguém se preocupou com o acontecimento, uma vez que quem vota cedo quer chegar em primeiro lugar e não perder tempo.
Por conta disto, observei que senhores e senhoras com problemas de deambulação se sacrificavam para subir escadas. Não havia elevador ou rampa. Aquela escola pública de ensino fundamental não pode aceitar uma criança cadeirante ou com qualquer deficiência. Por isto, tanto faz como tanto fez receberem centenas de idosos querendo votar e se danando para isto.
Eu era a terceira pessoa a entrar na minha sessão. Eram 8h e 20 minutos. Pensei que em poucos minutos eu sairia daquele tormento, mas demorou pra burro até eu conseguir chegar nas mesárias. Constatei que eram três mulheres trabalhando. Uma procurava desesperadamente num caderno os nomes das duas votantes à minha frente. A demora foi justamente porque a mesária não sabia ordem alfabética! E isto é um problema crônico na nossa sociedade.
O sistema digital ainda não foi implantado em todos os lugares, até porque, pelo jeito, tem dado erros absurdos por aí. Se pelo menos tivéssemos mesários com algum quociente de inteligência a coisa andaria melhor. Imagino que a esta hora, duas horas após meu voto, lá naquela escola um caos está se formando e é por falha humana.
Já que eu tinha que esperar a imbecilidade humana, aproveitei para confirmar os números dos candidatos à presidência. Virei-me para um mocinho atrás de mim e pedi ajuda. Ele disse que não sabia, pois ia votar no macaco Tião. Olhei pra ele, arregalei os olhos, abri a boca e o informei:
- “O macaco Tião já morreu!”.
Ele, meio incomodado com a minha seriedade, perguntou:
- “Ih! E agora?!...”.
Dei as costas para ele e respondi, balbuciando entre os dentes:
- “O jeito é votar num dos outros dois...”.
Rio, 26 de outubro d 2014
Leila Marinho Lage
http://www.clubedadonameno.com