HOMEM DO SACO

Eu duvido que exista algum vivente vivo ou morto, respirando ou não, nesse imenso universo, que não tenha sido ameaçado pela sua mãe, pela sua tia ou pela avó com o aterrador homem do saco.

- Se você fizer isso! Se você aquilo! Se você etc. e etc. e tal, o homem do saco vai pegar você!

O homem do saco era assustador! Vinha sorrateiramente e ensacava as traquinas crianças.

Que medo filho de uma puta eu tinha dessa indecente, e misteriosa figura que nunca tive o desprazer de conhecer. Eu acho que tinha mais medo do homem do saco do que do capeta. O capeta, conforme aprendi, sempre foi o cara das travessuras, das sacanagens, e eu sempre fui muito ligado às estripulias, e as confusões. Se fosse preciso eu seria amigo do capeta e mandava matar o homem do saco.

Eu o imaginava um monstrengo desfigurado que pegava as crianças, e as transformava em pasteis que vendia nas feiras.

Por isso nunca gostei de pastel! Sabe-se lá deus o que tem dentro deles.

Certa feita, moleque ainda, sem os pelos no saco, caminhava lado a lado com meu pai. O destino era a Igreja.

Avistei, dirigindo-se a nós, um arquejado e debilitado andarilho. Trajava imundos e rotos trapos. Uma barba imensa, desalinhada, cobria sua face. Trazia sofregamente um saco sujo e enorme nas costas.

- São as crianças arteiras que ele pegou! Imaginei medrosamente olhando aquele saco.

Meu pai, de passos largos, fazia com que aquele monstro se aproximasse mais rapidamente de nós.

Grudei nas calças dele e comecei a choramingar.

- Não deixe esse cara me pegar! Não quero virar pastel!

Puxava ainda mais forte a perna da calça olhando suplicante para meu pai.

- Eu prometo! Vou ser bonzinho!

Como estava atrapalhando o andar de meu velho, ele retirou minhas mãos da calça dele me repreendendo.

- O que é isso moleque? O que está acontecendo com você?

Nesse momento a figura indescritível já estava próxima de nós, e eu, petrificado, apenas pude e tão somente apontar com o dedo para a figura horrorosa.

Não me lembro, mas devo ter evacuado e mijado nas calças quando aquilo se dirigiu para meu pai.

No momento pensei:

- Pronto, meu pai vai me entregar a esse asqueroso velho, e eu vou estar dentro do saco dele junto com outras crianças, e desesperado conclui:

- Vou virar pastel!

O maldito homem do saco não morre, é eterno, deve ter milhares de anos, e milagrosamente ainda está muito bem. O amaldiçoado, que se dirigiu ao meu pai, ainda caminhava muito bem, e sem auxilio da bengala.

Por sorte meu pai não me entregou a ele.

Concluo que naquele momento ele já estava com o saco cheio, viso que simplesmente pediu ao meu pai uns trocados para comprar comida. Meu pai deu a esmola, e graças a Deus tal qual ele chegou desapareceu.

Cheguei são e salvo a Igreja. Agradeci pelo milagre de ainda estar vivo e não ter virado pastel.

Nas minhas orações fervorosamente pedi para que o monstro sempre estivesse de saco cheio, e com muita fome.

Sempre gostei de desafios, e por isso continuei, por muito tempo ainda, fazendo traquinagens.

Mario dos Santos Lima
Enviado por Mario dos Santos Lima em 25/10/2014
Código do texto: T5011856
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.