SÓ GOSTA DA MAMÃE
Há uma corrente saudosista que prega que a escola atual só tem de transmitir informações conceituais, factuais e procedimentais aos alunos, de modo que eles se apropriem de conhecimentos, que funcionarão como instrumentos para facilitar suas vidas futuras nos aspectos sociais e profissionais. Esse pessoal defende, também, que compete à família o papel de educar no sentido de plantar e desenvolver valores morais e éticos.
Diferentemente deles, eu pertenço ao grupo que defende que as famílias atuais não conseguem educar 100% os seus filhos, pois quando a mulher se inseriu no mercado de trabalho, teve de relegar a outros (babás, avós, “tias” de creches ou Ceims...) as incumbências de cuidar de seus rebentos. Em consequência, disso, por experiência própria, posso afirmar que os pais que ficam ausentes o dia inteiro, seis dias por semana, se sentem culpados e se negam a desempenhar os papéis de bruxas ou de Gargaméis, tendo dificuldades para limitar suas crias, de dizer-lhes, categoricamente: “NÃO!!”, quando a situação assim exige.
Penso, ainda, que essa situação é exponencialmente agravada em famílias desestruturadas, em que pais e mães estão envolvidos com a criminalidade. Portanto, pelo bem da humanidade, penso que a escola não pode se eximir de ensinar conteúdos atitudinais, de limar arestas nas personalidades daqueles que correm risco de se transformarem em perigo para a sociedade. Para tal é importante que os professores assumam as funções de educadores e como tal tenham enraizados em seus DNAs o requisito mínimo o para o desempenho de suas funções: a educação.
Como líder de cursos nessa área (Letras e Pedagogia) paguei e continuo pagando um preço alto por defender, tenazmente, essas ideias, dizendo frequentemente: “educadores precisam de ser, no mínimo, educados, e quem o é necessita de ser ético também”. Convicta disso, no ambiente escolar em que atuo e, também, na minha vida, não me nego a educar ninguém, independentemente de suas idades ou de seus status, como o fiz, recentemente com a diarista, que me atende duas vezes por semana.
Ela possui duas qualidades essenciais ao desempenho de suas funções, mas também tem dois defeitos. As primeiras são a boa qualidade da limpeza e o sorriso fácil, os segundos são as faltas frequentes ao serviço e a pouca ou nenhuma noção de propriedade, já que ela acha que o que é meu é dela.
Para contornar o primeiro defeito, ela desenvolveu grande criatividade nas justificativas: “Tive infecção intestinal e passei a noite internada no HGL”, “Caí do telhado”, “Fui fazer uma instalação do chuveiro e tomei um choque, caí no chão, me machuquei...” “Mamãe morreu!”....
Para educá-la em relação ao segundo, recentemente, eu escolhi um método bem descarado, similar ao seu modus operandi. Pouco antes de ela ir embora, eu, que há tempo achava estranho que sua bolsona chegasse vazia e saísse volumosa, resolvi abri-la quando ela foi ao banheiro. Descobri dentro dela, sorrateiramente escondida uma embalagem plástica de Activia, de um litro, cheinha do meu rico sabão líquido. Não pensei duas vezes: peguei-a, fechei o zíper e fiquei quietinha. Ao me despedir dela naquela tarde, disse-lhe: “Fulana, meu sabão mandou lhe dizer que ele não vai com você hoje não, porque ele só gosta da mamãe.”
Sabe o que ela fez? Teve um ataque de riso!!!
Eu nada mais lhe disse, mas acho que a eduquei, pois nunca mais sumiu nadinha ( Não que eu tenha descoberto, claro!!).