Os cinco gatinhos.
- Não me interessa mais nada, faça isso agora!
Nunca passou pela minha pequena cabeça de oito anos contrariar uma determinação dela.
Hoje posso dizer com toda a segurança, que nenhuma outra pessoa possui ascendência sobre mim, exceto ela: minha mãe! Tampouco eu poderia dizer que exista pessoa que eu ame e respeite mais que a ela.
Mas tive de cumprir a ordem: levar os cinco gatinhos e soltar no bosque, um local público, no centro da cidade do interior onde nasci e fui criado, apenas a uma quadra de minha casa.
A gata que havia aparecido na minha casa a algum tempo dera à luz a seis gatinhos e depois desaparecera. Um deles morreu logo ao nascer os outros cinco eu vivia alimentando com mamadeira, a duras penas. Mas minha mãe não os queria mais miando por perto e a ordem precisava ser cumprida.
Levei-os até o bosque, dentro de um saco de estopa, soltei-os e voltei para casa no mais copioso pranto, que jamais fui capaz de repetir. Após chorar por algumas horas, minha mãe me mandou buscar os gatinhos de volta. Até hoje não sei se foi por pura e simples piedade, ou porque preferia o miados dos gatos ao meu pranto convulsivo e incontrolável.
Voltei correndo ao bosque. Os cinco gatinhos estavam mortos e na mais literal petição de miséria. Seus pedaços se espalhavam por um vasto círculo. Um senhor me informou que foram uns bons meninos que fizeram aquilo.
Voltei para casa. Estava estranhamente sereno. Não chorava mais.
Espantada minha mãe perguntou o que tinha acontecido. Então narrei a história toda e descrevi a situação em que se encontravam os restos dos cinco gatinhos. Ao ser questionado sobre a razão do fim do choro, eu não soubera explicar.
Muito tempo se passou depois disso. Um dia, aquela lição me foi revelada: não chorei mais porque não havia mais sofrimento – ou previsão de sofrimento – para aqueles cinco gatinhos. Meu amor pela vida, aparentemente, perdera o sentido naquele caso. Não havia mais vida para amar ali. No entanto, os cinco gatinhos guardados na minha memória, estes sim, permaneceram intocáveis. Para eles, aqui, meu amor permanece. E os carrego para sempre, como símbolos daquela lição.