HERANÇA

Mais uma vez, como se fora um disco de vinil defeituoso, assistimos ao esfacelamento de uma grande fortuna. Talvez em obediência à sabedoria popular que diz ”pai trabalhador, filho gastador, neto miserável”.

Sim, estamos falando do Brasil, do nosso país.

Como no imaginário grego, antes havia o caos.

Ações tresloucadas de governantes visionários como JK que executou o seu plano de metas por cima de paus e pedras e nos deixou um imenso legado de progresso e de descontrole.

A reboque Jânio Quadros (o louco, o alcoólatra) ou quaisquer outros epítetos que se queira atribuir-lhe. Em sete meses e meio à frente dos destinos da nação, se fez algo de bom, esse algo foi diluído pelas tolices. Com a sua renuncia instala-se a confusão administrativa. Ninguém entendeu que o giro pelos países orientais, notadamente a China, que o vice presidente (Jango Goulart) estava fazendo era para conquistar aquele mercado de mais de um bilhão de consumidores para os produtos brasileiros.

Criaram um parlamentarismo às avessas e deram o golpe de estado com militares no poder que durou a eternidade de mais de vinte anos e que hoje, trinta anos depois, ainda sofremos as consequências de suas ações nefastas. Entre elas “sabe com quem está falando?” Numa cabal demonstração de que na nossa sociedade é explícita a divisão por castas, negadas por muitos, mas praticadas por todos.

Desde as primeiras povoações, feitas pelos invasores europeus, até hoje, apesar dos quinhentos e tantos anos, no campo ou nas cidades, temos senhores, clérigos, soldados, artesãos, povo, escravos...

Saíram os militares, votaram os civis. “mudaram-se os burros, a almanjarra continua a mesma” (ditado popular na minha terra, quando Pernambuco era o maior produtor e exportador mundial de açúcar de cana).

E haja planos econômicos e a roubalheira desenfreada em todos os níveis. Zésarney decretou moratória internacional, congelou os preços e adaptou o princípio franciscano do "é dando que se recebe" à corrupção endêmica que contaminou os políticos de modo geral até os dias atuais. Mudanças de nome da moeda, cortes de zeros no valor nominal. Banco maior engolindo banco menor. Bancos estaduais servindo de cabide de emprego para apaniguados. Empresas antes sólidas em concordata.

Hoje se chama Recuperação Judicial, nome mais simpático para caracterizar calote.

Impostos, taxas, emolumentos, contribuições compulsórias, etc. incidindo sobre tudo em efeito cascata, sobre um mesmo fato gerador. Eventualidade aliás, proibida por lei.

Ah! Sim... Temos leis, mas não precisa se preocupar. A maioria dessas Leis, inclusive a carta magna, está no rol das leis que não pegaram. Portanto não devem ser respeitadas assim como a faixa de pedestre, o semáforo, a ciclovia, as placas de estacionamento proibido e muito menos vaga para deficiente.

O Collor conseguiu por mais lenha na fogueira com o confisco da poupança. Aí o bicho pegou. Mexeu no bolso de gente graúda. Aquela gente no topo da lista de castas que manipulando os jovens, sem esclarecimento nem causas pelas quais lutar, foram guiados em passeatas, com as caras pintadas e o cabra foi para o olho da rua.

Hi! Tá mar... (expressão mineira) Itamar Franco assume a presidência e FHC, no ministério da fazenda, usando a fórmula econômica mundialmente consagrada de limitar os gastos aos ganhos, colocou a economia no eixo.

O Brasil voltou a crescer, não nos moldes do milagre brasileiro do tempo da ditadura, mas um crescimento sólido tanto que nos oito anos do governo FHC, conseguimos a estabilidade e o aumento da nossa participação no mercado mundial. Deixamos de ser tomador de empréstimo para sermos depositantes do fundo monetário internacional.

O herdeiro desse período de bonança foi o presidente Lula. Com a arrecadação nos cornos da lua, nada mais justo que focar o social.

A bolsa família, que é a síntese do vale gás, vale leite, vale qualquer coisa, foi distribuída aleatoriamente, inclusive para quem nunca precisou devido ao descontrole oficial e à ganância de gente desonesta.

A mesma viagem à China que ensejou o bota fora de Jango, agora foi festejada em grande estilo.

O Partido dos Trabalhadô (sic) que, como disse o jornalista Joelmir Betting “começou com presos políticos e vai acabar com políticos presos” por ter o seu ideário semelhante ao de Vladimir Ilitch Lênin e seu fiel escudeiro Joseph Stalin se aproximou de Dom Fidel Alejandro Castro Ruz, último baluarte do sonho comunista da união soviética e a tira colo dos presidentes sul-americanos alinhados e dos ditadores africanos. Para esses foi usado o inócuo argumento da nossa dívida para com aquele povo.

Ora, nós não devemos nada a eles. Se existe dívida deve ser cobrada aos próprios africanos que capturavam membros de outras tribos para traficar com os comerciantes europeus, árabes, etc.

No meu entender, essa dívida nunca existiu e nem serve para justificar o perdão do empréstimo de milhões de dólares feita pelos ditadores atuais.

Quando a hidrelétrica de Itaipu foi construída, o acordo foi bem claro. O Brasil arcaria com todo o custo da obra. A energia produzida, dividida ao meio e tudo aquilo que Paraguai não precisasse, o Brasil compraria com tarifa pré-determinada fixa e a diferença entre esse preço e o valor de mercado do KW, abatido do custo da construção cabível àquele país. Lula mandou reajustar o preço assim como aceitou de bom grado o aumento no preço do m³ do gás boliviano, para que seus coleguinhas tivessem sobra de caixa. Afinal todos fazem parte do colegiado Dom Castro e Seguidores.

A falta de fiscalização pelo congresso, a conivência de parlamentares comprados em prestações mensais, com o dinheiro dos impostos desviados por via das empresas públicas, fez com que o governo federal se transformasse em verdadeiro balcão de negócios escusos com ramificações nas instituições e em todos os níveis. Instalou-se a farra de cargos comissionados em trinta e nove ministérios sem ação nem função.

Virou rotina o descalabro da apropriação do erário público via licitações fraudadas, com empreiteiras viciadas, financiadoras constantes de campanhas políticas, responsáveis por obras superfaturadas e eternamente inacabadas. Construções que desmoronam bem antes do fim da obra e outras que precisam de reparos ou de demolição antes que se completem dois anos de uso.

Fundamentos econômicos mundialmente aceitos foram relegados, a infraestrutura nacional negligenciada e o programa de governo abandonado.

O fantasma da inflação foi despertado do seu sono provisório graças ao clima, cujos efeitos foram maximizados pelo não gerenciamento de riscos, pelo encolhimento da economia sem rumo definido, que inibe o empreendimento e afasta o investidor.

O governo Dilma, de quem se esperava grandes feitos por ser a da primeira mulher a assumir a Presidência da República, infelizmente nada há para comentar porque se trata apenas da continuação do governo Lula, como se ela estivesse, semelhante aos colegas Nicolás Maduro Moros e Cristina Elisabet Fernández de Kirchner, incorporada com o espírito do seu antecessor.

A sua única obra digna de nota está fora do Brasil. É o porto de Mariel em Cuba, construído com o nosso dinheiro.

Sim, ia esquecendo, para não ser injusto, ela criou, por decreto, flexão de gênero para o verbo presidir.

Agora temos presidenta... Coisa linda... Filologia da melhor qualidade, neologismo ímpar, que demonstra todo esplendor de um cérebro privilegiado.

E, para que essa crônica não se transforme num conto de terror, basta só acrescentar que esse cenário dantesco é parte da herança que o novo presidente, não importa quem seja, herdará em primeiro de janeiro de 2015.