Nossas pequenas manias
Há alguns dias, assisti a um vídeo do escritor Rubem Fonseca em que ele falava sobre o ato de criar. Dizia ele que para ser um escritor, em primeiro lugar, o sujeito tem de ser louco. Com o bom humor que lhe é peculiar, disse que, na verdade, todos os humanos são loucos: escritores são ainda mais. E perguntou: “Quem de nós não tem suas pequenas manias, suas neuroses?”
Achei isto absolutamente verdadeiro. Realmente, todos nós temos hábitos, vícios, superstições, compulsões, rituais, enfim, pequenas manias que podem não causar mal algum, mas que se não forem bem administradas poderão ocasionar sérios transtornos.
O problema é que, muitas vezes, nós nem nos damos conta de quando nossas manias são inofensivas ou de quando elas se tornam um grave problema. Nós nos julgamos pessoas totalmente normais porque temos controle sobre determinadas atitudes e comportamentos como, por exemplo, não ficarmos nus em público, não falarmos sozinhos na rua (porque, com certeza, em casa ou em outro lugar longe da vista dos outros, falamos), não rasgarmos dinheiro, não xingarmos o patrão mesmo que ele nos repreenda injustamente, não usarmos uma bermuda em uma cerimônia de casamento e uma série de atitudes de que somente os loucos são capazes.
Entretanto, somos capazes de fazer coisas que nem o Freud poderia explicar. Por acaso é normal uma pessoa só sair de casa após conferir o horóscopo e, se as previsões não forem boas, mudar de planos? É normal alguém comprar pares e mais pares de sapatos e não usá-los, apenas ficar admirando a coleção? É normal uma pessoa limpar, limpar e limpar, o tempo inteiro, a casa, os móveis e tudo que vê pela frente? É normal uma pessoa tomar banho de cinco a seis vezes por dia e ainda se sentir suja? No verão é até compreensível, mas com um frio de doer até os ossos?! Pior do que esta é a que não toma nenhum porque se acha sempre limpa (banho só duas vezes por semana e olhe lá!). Ainda tem a mania de cheirar tudo o que vai comer ou beber, a mania de coçar a cabeça, a de coçar as partes íntimas (odeio homem que faz isso), a de enfiar o dedo no nariz (Eca!), a de contar dinheiro molhando as pontas dos dedos para separar as notas (Ui!).
Durante a vida vamos adquirindo manias. Algumas inconscientes, outras conscientes, mas a verdade é que não escapamos delas: mania de roer unhas, de brincar com os cabelos enrolando-os em cachos, de pentear os cabelos, de se olhar no espelho, de morder o lábio inferior, de balançar as pernas quando se está sentado, de colocar a mão no outro quando se está conversando, de interromper as pessoas enquanto elas estão falando, de fazer dieta, de malhar, mania de ler jornal ou revista somente no banheiro, mania de abrir a geladeira cem vezes mesmo cansado de saber o que há dentro dela, de deixar roupas espalhadas pela casa ou, ao contrário, mania de deixá-las organizadas demais - penduradinhas de acordo com a cor, tonalidade, tamanho, modelo, ou dobradinhas como se tivessem acabado de chegar da loja. Eu, por exemplo, tenho a mania de pendurar as roupas para secar no varal em ordem decrescente de tamanho e usar os pregadores de mesma cor para os pares de meias. Não é meio louco isso? Mas há manias piores do que as minhas. Há pessoas que têm mania de juntar embalagens porque, quem sabe, um dia poderão servir para alguma coisa; mania de guardar objetos em desuso, quebrados, estragados porque sentem pena de jogar fora; mania de mexer no celular (há quem diga que não consegue mais viver sem o whatsapp); mania de fazer selfie para postar nas redes sociais; mania de ver televisão; mania de ler (essa eu também tenho); mania de ouvir música (é outra que tenho também); mania de conferir mil vezes se trancou as portas da casa antes de dormir. Há outras manias também que são terríveis: a de falar mal da vida dos outros, a de reclamar de tudo, a de ver somente o lado negativo das coisas, a de mentir. Existem ainda as manias de perseguição, a de grandeza, a de soberba, a de achar que somente as próprias coisas têm valor e que as dos outros não prestam. E assim, de mania em mania às vezes as situações vão ficando fora de controle e quando as pessoas se dão conta já estão sofrendo de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Não é à toa que os consultórios dos psicanalistas, psiquiatras e neurologistas andam sempre cheios. Quando nossas pequenas manias se tornam grandes e começam a interferir em nossa capacidade de produção, de concentração, de convivência no trabalho ou em nossa vida pessoal, é porque perdemos o domínio sobre elas. Aí temos mesmo que procurar ajuda.
Bem, acho que ainda não é o meu caso. Por enquanto, minhas manias não têm me feito mal e nem a quem convive comigo. Sou uma louca sob controle. Acho que encontrei o melhor jeito de administrar minha loucura: escrevendo.
Há alguns dias, assisti a um vídeo do escritor Rubem Fonseca em que ele falava sobre o ato de criar. Dizia ele que para ser um escritor, em primeiro lugar, o sujeito tem de ser louco. Com o bom humor que lhe é peculiar, disse que, na verdade, todos os humanos são loucos: escritores são ainda mais. E perguntou: “Quem de nós não tem suas pequenas manias, suas neuroses?”
Achei isto absolutamente verdadeiro. Realmente, todos nós temos hábitos, vícios, superstições, compulsões, rituais, enfim, pequenas manias que podem não causar mal algum, mas que se não forem bem administradas poderão ocasionar sérios transtornos.
O problema é que, muitas vezes, nós nem nos damos conta de quando nossas manias são inofensivas ou de quando elas se tornam um grave problema. Nós nos julgamos pessoas totalmente normais porque temos controle sobre determinadas atitudes e comportamentos como, por exemplo, não ficarmos nus em público, não falarmos sozinhos na rua (porque, com certeza, em casa ou em outro lugar longe da vista dos outros, falamos), não rasgarmos dinheiro, não xingarmos o patrão mesmo que ele nos repreenda injustamente, não usarmos uma bermuda em uma cerimônia de casamento e uma série de atitudes de que somente os loucos são capazes.
Entretanto, somos capazes de fazer coisas que nem o Freud poderia explicar. Por acaso é normal uma pessoa só sair de casa após conferir o horóscopo e, se as previsões não forem boas, mudar de planos? É normal alguém comprar pares e mais pares de sapatos e não usá-los, apenas ficar admirando a coleção? É normal uma pessoa limpar, limpar e limpar, o tempo inteiro, a casa, os móveis e tudo que vê pela frente? É normal uma pessoa tomar banho de cinco a seis vezes por dia e ainda se sentir suja? No verão é até compreensível, mas com um frio de doer até os ossos?! Pior do que esta é a que não toma nenhum porque se acha sempre limpa (banho só duas vezes por semana e olhe lá!). Ainda tem a mania de cheirar tudo o que vai comer ou beber, a mania de coçar a cabeça, a de coçar as partes íntimas (odeio homem que faz isso), a de enfiar o dedo no nariz (Eca!), a de contar dinheiro molhando as pontas dos dedos para separar as notas (Ui!).
Durante a vida vamos adquirindo manias. Algumas inconscientes, outras conscientes, mas a verdade é que não escapamos delas: mania de roer unhas, de brincar com os cabelos enrolando-os em cachos, de pentear os cabelos, de se olhar no espelho, de morder o lábio inferior, de balançar as pernas quando se está sentado, de colocar a mão no outro quando se está conversando, de interromper as pessoas enquanto elas estão falando, de fazer dieta, de malhar, mania de ler jornal ou revista somente no banheiro, mania de abrir a geladeira cem vezes mesmo cansado de saber o que há dentro dela, de deixar roupas espalhadas pela casa ou, ao contrário, mania de deixá-las organizadas demais - penduradinhas de acordo com a cor, tonalidade, tamanho, modelo, ou dobradinhas como se tivessem acabado de chegar da loja. Eu, por exemplo, tenho a mania de pendurar as roupas para secar no varal em ordem decrescente de tamanho e usar os pregadores de mesma cor para os pares de meias. Não é meio louco isso? Mas há manias piores do que as minhas. Há pessoas que têm mania de juntar embalagens porque, quem sabe, um dia poderão servir para alguma coisa; mania de guardar objetos em desuso, quebrados, estragados porque sentem pena de jogar fora; mania de mexer no celular (há quem diga que não consegue mais viver sem o whatsapp); mania de fazer selfie para postar nas redes sociais; mania de ver televisão; mania de ler (essa eu também tenho); mania de ouvir música (é outra que tenho também); mania de conferir mil vezes se trancou as portas da casa antes de dormir. Há outras manias também que são terríveis: a de falar mal da vida dos outros, a de reclamar de tudo, a de ver somente o lado negativo das coisas, a de mentir. Existem ainda as manias de perseguição, a de grandeza, a de soberba, a de achar que somente as próprias coisas têm valor e que as dos outros não prestam. E assim, de mania em mania às vezes as situações vão ficando fora de controle e quando as pessoas se dão conta já estão sofrendo de TOC – Transtorno Obsessivo Compulsivo. Não é à toa que os consultórios dos psicanalistas, psiquiatras e neurologistas andam sempre cheios. Quando nossas pequenas manias se tornam grandes e começam a interferir em nossa capacidade de produção, de concentração, de convivência no trabalho ou em nossa vida pessoal, é porque perdemos o domínio sobre elas. Aí temos mesmo que procurar ajuda.
Bem, acho que ainda não é o meu caso. Por enquanto, minhas manias não têm me feito mal e nem a quem convive comigo. Sou uma louca sob controle. Acho que encontrei o melhor jeito de administrar minha loucura: escrevendo.