As Casas Pernambucanas

O jingle era conhecido nos mais distantes cafundós do país: bastava haver uma porteira de fazenda, uma rocha de granito exposta ou mesmo uma árvore mais rotunda e lá estava a inscrição, invariavelmente em tinta branca: Casas Pernambucanas, onde todos compram.

Mesmo quem não fosse da capital, ou nem tivesse lá ido, acabava sabendo das maravilhas das Lojas Americanas, onde se dizia, de tudo havia. Porém, no caso das Casas Pernambucanas, onde todos compravam, persistia um certo mistério. Todos compravam, e quase ninguém nelas falava.

O que teria acontecido? Será por que se especializavam justamente no tecido, porquanto, tudo que fosse badulaque, de utilidade ou de araque, as Americanas vinham à mente firmes, assim como a democracia no Iraque?

Fossem Casas Parahybanas, a gente podia estar certo de lá encontrar

o agalhaso - pro corpo e pra alma – que cobriria tanto o Xá e a Farah Diba, o inefável cobertor Parahyba. Mas de pernambucano bem conhecido o que é que havia - além da bravura daquela gente que se uniu acima das diferenças raciais para expulsar o invasor holandês, que queria se apossar de seus canaviais e fazer mais sacanais? Isso não é pouco.

Mas pra se vender ao povo, que se podia esperar do Leão do Norte? Livros e teses de Gilberto Freyre, da mesma estatura que um Freud, um Marx, e muito mais sensual com suas mulatas e seus baús de revelações? Ou esculturas do Brennand, que de tão pesadas, nem podiam ser transportadas num tempo em que o Brasil mal tinha estradas pros seus Fenemês?

Mas matei a minha sede de conhecimento conhecendo uma pernambucana casa em BSB. Comprei lá meu tergal. Mas depois me pus a pensar: não seria mais próprio da Bahia, esse negócio de ter Gal?

Paulo Miranda
Enviado por Paulo Miranda em 20/10/2014
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