Minha busca

Da janela do avião vejo várias queimadas, umas grandes, outras pequenas, e engulo seco, pensando na falta de água que nos assola, no segundo turno das eleições, no que não vai mudar no país, ganhe quem ganhar, e na morte, que me aguarda no final, soberana, imbatível.

Mas não quero pensar na morte. Minha vida é agora, neste avião, sobrevoando as Minas secas, lendo "A festa da insignificância", de Milan Kundera, feliz – no momento, feliz –, e é isso que importa. Ao meu lado minha filha lê "Diário de uma garota nada popular", o que me leva a pensar no garoto nada popular que eu fui nos anos 80, na estranha sensação de ser invisível, na angústia de fazer o que eu não queria, de fingir ser o que eu não era, só para conversarem comigo, me incluírem no grupo. Mas isso já passou.

Hoje busco o que sou, pagando o preço dessa busca (e do que vou encontrando), feliz, sem medo, porque o tempo passa e não quero desperdiçá-lo violentando minha alma, obrigando-a a se ocultar na escuridão, enquanto represento minha parte nos palcos da vida. Sei que representar é matéria de sobrevivência. Mas nela não quero tirar 100, só o necessário para passar. Estou aprendendo a viver.

Volto à minha leitura: “A insignificância, meu amigo, é a essência da existência. Ela está conosco em toda parte e sempre”. Fecho os olhos e me vejo em Paris, passeando sozinho pelas ruas de Montmartre...

Pouso autorizado.

Segunda-feira começa tudo de novo.

Obrigado, Deus, por me dar força e coragem para prosseguir nessa busca.

Flávio Marcus da Silva
Enviado por Flávio Marcus da Silva em 20/10/2014
Código do texto: T5005260
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.