TARDE DE SÁBADO

Sábado de clima quente, sol fazendo coreografias no asfalto e emblemas em meus olhos, água ou ígneo prenúncio?

Fujo do asfalto, busco o frescor dos lagos e das árvores que os rodeiam. Na estrada, brinco com corujas que pousam, atenciosamente, em mourões de cercas.

Aos poucos, vou me afastando do calor urbano e me embrenhando em matas e plantações, um tanto ressentidas com a força do sol. Talvez seja nisso que as corujas tanto pensam, enfim...

À beira dos lagos, procuro sombras, mas quero daquelas bem fechadinhas, sem a renda do sol entre folhas de árvores. Encontro uma, estendo minha toalha amarela, uma pequena almofada que me servirá de travesseiro, retiro o livro da sacola preta e deito-me sobre a toalha e me ponho a ler, com a cabeça apoiada no improvisado encosto.

Enquanto leio, sinto o frescor do vento, que ondeia as águas e me faz bem ao corpo. Ouço o burburinho dos pescadores nas barrancas dos lagos e a agitação das ondas, quando algumas tilápias espiam à flor d’água em seu feliz balé.

Opto por não pescar, prefiro os peixes dançando em seu ambiente natural. Eles devem divertir-se com tantas bolinhas que lhes jogam para comer. Torço, com todas as minhas convicções, para que os pescadores se frustrem e voltem com os embornais vazios.

Jesus multiplicou pães e peixes para mostrar a fé pequena de seus discípulos, os quais queriam livrar-se da multidão. Alegaram não haver alimento para todos naquele local e preferiam que o povo se deslocasse para a aldeia, a fim de adquirir comida.

Hoje, há grãos germinando na terra, da qual as corujas são sentinelas. Que brotem as sementes e que os homens as plantem em grande quantidade, inclusive, que não duvidem da principal semente a germinar: a fé.

Dalva Molina Mansano

21:29

18.10.2014

Dalva Molina Mansano
Enviado por Dalva Molina Mansano em 18/10/2014
Reeditado em 19/10/2014
Código do texto: T5003930
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